À Ciência falta descobrir a vacina contra a dor da solidão. Acho que os cientistas não sofrem desse mal ou, por não lhes sobrar tempo e preocupados com a cura de outras mazelas, não se importam com o amor, com o namoro, com a paixão. Em seus laboratórios, tão limpos e assépticos, entre tubos de ensaio e microscópios, não há espaço para experiências com afetos, beijos e abraços. Por isso, respeito a alma simples do borracheiro, em seu ambiente de trabalho sujo e sebento, que a cada cusparada na válvula da capsulana verifica o ar de um pneu. A ele, basta a vida e seu ofício para abastecer-se de esperança pela cura da melancolia, da saudade e da dor da solidão, vírus piores que qualquer outro. Sobra-lhe ar, a ele e ao seu equipamento precário e débil. Ao final, ele é mais feliz que o dono do banco. Esta semana o rico banqueiro do Amazonas não resistiu à falta de ar. Ao borracheiro, sobra-lhe esse artefato tão valioso.
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