VIAGEM INESQUECÍVEL ATÉ BALSAS, COM A NOSSA RURAL
João Ribeiro da Silva Neto
Mais um textão, para aqueles que gostam de ler! Muitas novidades e acredito que as boas e interessantes experiências vividas deveriam ser escritas, registradas e compartilhadas com todos.
A nossa Rural
Assim como milhares de pessoas, também possuímos uma boa Rural, que embora exigindo manutenções frequentes, como devemos proceder até hoje, sempre nos prestou incontáveis serviços, tanto na vida pessoal quanto nas idas para a faculdade (Universidade Estadual do Ceará – UECE) e Conservatório de Música Alberto Nepomuceno, onde fizemos Licenciatura em Música na primeira turma depois de encampado pela UECE. Também utilizei muito a Rural para o meu trabalho na TVE (Televisão Educativa do Ceará) e para a TV Ceará Canal 2, onde juntamente com o nosso Conjunto Musical Big Brasa participávamos de dois programas, o Studio 2 e o Show do Mercantil, apresentado pelo Augusto Borges, que nos deixou recentemente. A Rural também participou das idas do Big Brasa a centenas de festas no interior do Ceará por um bom período.
A nossa Rural podia ser equipada também com um reboque, que meu pai Alberto Ribeiro mandou fazer, para que pudéssemos levar parte do equipamento do conjunto musical. Entretanto, com esse reboque ficava bem mais difícil de manobrá-la e de conduzi-la, mesmo porque tinha lá suas folgas no sistema de direção, requerendo, logicamente, maior habilidade de quem a dirigia, no caso eu próprio e por vezes o meu primo e cunhado Adalberto Lima, que também fez parte do Big Brasa.
Outra dificuldade extra se dava por conta de peso em cima, com caixas de som, em um bagageiro suplementar. Tornava-se uma parada dura para equilibrá-la nas estradas de forma segura. Mas graças a muito cuidados nossos e também alguma perícia conseguimos nos safar ilesos sem nunca sofrer nenhum percalço. Desde os nossos jipes aprendi muitas coisas de mecânica e isso ajudava e muito nos percursos. Com toda a modéstia eu digo que se dependesse de consertos, sem a necessidade de peças especiais, a gente resolvia mesmo: parte elétrica, freios, carburação e alimentação etc. Uma ressalva: os carros naquele tempo davam chance para que nós mesmos os consertássemos, tendo em vista que os espaços do motor eram mais amplos, o que é bem diferente hoje em dia, com tudo muito compacto e que até para desmontar alguma coisa temos que recorrer às oficinas autorizadas...
Depois desta apresentação básica de nossa Rural quero destacar o momento de uma viagem especial de férias, de Fortaleza a Balsas, no sul do Maranhão, em um mês de julho no qual decidimos tirar férias por dez dias, após nove anos e meio sem parar as atividades musicais de trabalho. Foi uma aventura bem sucedida e que nos deixou recordações inesquecíveis!
Viagem a Balsas
Coloquem os cintos de segurança e viajem conosco nesta aventura! Nem lembro se tinha cintos de segurança, que na época não eram de uso obrigatório.
Estávamos em julho de 1974, quando o maravilhoso Rio Balsas está no seu melhor período, com suas águas cristalinas e uma natureza exuberante e propícia para aproveitarmos bem. Eu e minha mulher Aliete convidamos para o nosso passeio de férias o Mairton Vitor (in memoriam), amigo e trompetista do Big Brasa e sua esposa Suely Cardoso.
Dias antes de sair recebi de meu pai avisos, no sentido de que a aventura poderia ser complicada se a Rural desse um prego grande, como se diz, uma vez que praticamente naquela época a grana era curta. Lembro que ele questionou: - "Se essa Rural bater o motor em qualquer lugar você tem dinheiro para resolver o problema? Não seria melhor ir de ônibus?". Reconheço que questionamentos mais do que sensatos. Eu sabia que a Rural não tinha nenhum tipo de seguro. Então se um problema ocorresse nem sei o que seria de nós. Mas decidi arriscar, optando a emoção em lugar da razão, porque na realidade quando somos jovens muitas vezes nem sequer pensamos nessas possibilidades. E tudo deu certo mais essa vez. Ainda bem!
O percurso
Nosso trajeto até Balsas, saindo de Fortaleza, foi feito pela Rodovia CE-020, que traça praticamente uma reta até Floriano, já no Piauí. A distância percorrida entre Fortaleza a Balsas foi de aproximadamente 1.150 quilômetros. No início estrada asfaltada, mas com aqueles buracos na pista que todos conhecem... Tenho ainda todo o roteiro de todas as viagens que fizemos com as quilometragens anotadas etc. Muito bem até nossa chegada a Floriano. Mas depois de um pouco de descanso prosseguimos a viagem, desta vez enfrentando mais 410 quilômetros de uma estrada de piçarra, com muita poeira, pontes de madeira (muitas das quais passamos à noite, identificando que havia uma ponte apenas pelo barulho dos pneus da Rural). Com atenção redobrada seguimos este trajeto, enfrentando condições altamente adversas, com dificuldades para ultrapassar outros veículos, principalmente caminhões, que até mesmo dificultavam nossas ultrapassagens para não ficarem "comendo poeira". Não havia ar condicionado e o calor, misturado à poeira eram difíceis. Mas, com todas as dificuldades da estrada vencemos a distância e finalmente chegamos a Balsas. Imediatamente fui com a Rural, mais ou menos às 22 horas, para a beira do rio, no porto da rampa, como era chamado. Estacionei a Rural e tomamos um banho delicioso para matar o calor e tirar a nossa cor, visto que estávamos todos louros, mas de tanta poeira. Um detalhe: eu sabia que uma vez um carro tivesse feito essa viagem naquela época nunca mais você conseguiria limpar toda a poeira que nele penetrava. Apesar de todo lavado, quando tinha que desmontar algo para um eventual conserto lá estava poeira, muita poeira!
Na atualidade a estrada de Floriano a Balsas está totalmente asfaltada e bem sinalizada, além do que os nossos veículos possuem muitos equipamentos melhores, mais seguros e que nos trazem mais conforto, como e principalmente o ar-condicionado. Eu mesmo viajei para Balsas em 2017, para comemorar os cinqüenta anos de nosso Conjunto Big Brasa, em nosso simples Duster, com toda a tranqüilidade.
Muita diversão e aventura
Em Balsas pudemos mostrar ao Mairton e Suely as belezas naturais e os passeios da cidade e pelo rio, de lancha, uma experiência maravilhosa para quem não conhece e também para quem conhece bem! Mostramos para o Mairton e Suely a casa onde meus avôs nasceram, situada na Praça da Igreja Matriz, que ainda conserva azulejos portugueses nas paredes e foi a primeira a ter iluminação a gás na cidade!
Lembranças históricas
Do centro da cidade relembramos também o Clube Recreativo Balsense (CRB) onde o nosso saudoso Big Brasa, no ano de 1967 tocou a primeira festa em Balsas com guitarras e a música da Jovem Guarda, um fato que marcou praticamente toda a população naquela época, parentes e amigos que lembram até hoje da passagem. Tudo seria repetido em 2017, mês de julho, quando reunimos dois componentes do Conjunto Big Brasa para se apresentar novamente, cinquenta anos após, no mesmo palco. Para isso até compus uma paródia de Festa de Arromba que toquei e cantei naquela oportunidade, um momento mágico e muito emocionante de minha trajetória musical.
Eu e o Mairton fomos até a Lagoa Grande para fazer uma caçada e acampar em plena mata, às margens daquela lagoa. Fizemos de tudo um pouco. Encontros musicais, onde o Mairton demonstrou sua classe com o trompete, visita a uma balada, em plena cidade, que tinha os fundos para o Rio Balsas, sendo que havia a possibilidade de nos intervalos quem assim desejasse podia descer até o rio, tomar um banho e voltar revigorado para a festa! Bom demais. Eu chegava à recepção do local das noitadas e entregava para o pessoal uma pequena bolsa com toalha de banho, sabonete, desodorante, para usar no Rio Balsas. Uma água espetacular, melhor ainda quando bem iluminada pelas noites de luar intenso. De novidades também as garapas de rapadura feitas pela minha avó Nemésia Santiago (in memoriam), que preparava tudo para nós com extremo carinho e boa vontade.
O retorno a Fortaleza
Tudo que é bom dura pouco, vocês sabem disso. De Balsas para Fortaleza decidimos voltar passando por Teresina, ou seja, de Floriano em vez de seguir adiante, entramos à esquerda e mais 250 quilômetros até Teresina e da capital piauiense, mais 603 km para Fortaleza, pela BR-222. Voltamos depois desses dez dias aliviados para enfrentar novamente o trabalho. Com a nossa Rural repleta de laranjas, muitas delas, todas das margens do Rio Balsas. Na Serra Grande, já no Ceará, fizemos a então tradicional parada no meio da descida em um restaurante que proporcionava um banho de cachoeira espetacular.