VIAGEM DE MAEL DÚIN – UM CONTO CELTA (PRÓLOGO)
Traduzido, complementado e resumido por
Robson José Calixto
Havia um homem famoso que pertencia ao clã dos Owens das Ilhas de Aran, que ficam a sudoeste da atual Galway, Irlanda. O nome desse homem era Ailill Lâmina-de-Batalha, que foi com o Rei em uma incursão a outro território. Eles acamparam uma noite perto de uma Igreja contígua a convento de freiras. Por volta da meia noite Ailill viu uma freira sair para tocar o sino da Igreja, e a agarrou pela mão. Na antiga Irlanda religiosos não eram muito respeitados em tempos de guerra, e Ailill, assim, não a respeitou, deflorando-a. Ao partirem Ela perguntou qual eram a raça e o nome dele, que respondeu: “Ailill da Lâmina-de-Batalha, dos Owens de Aran, em Thomond”, região irlandesa associada aos condados de Clare e Limerick
Em verde mais escuro, a região de Thomond, na Irlanda.
À esquerda, um pouco acima, dessa região, está o arquipélago de Aran. Fonte: Internet.
Passado algum tempo a mulher deu a luz a um menino, que foi chamado de Mael Dúin. Ele foi mantido e protegido secretamente pela Rainha do território, pois era amiga da freira. Mael Dúin cresceu com as formas belas e duvida-se se houve outro homem tão belo quanto ele. Ele cresceu e se tornou um jovem guerreiro, hábil no uso das armas. Grande também eram a inteligência, disposição e alegria. Nas brincadeiras superava todos os companheiros no arremesso de bolas, correndo e saltando, erguendo pedras e nas corridas de cavalos.
Um dia um jovem guerreiro orgulhoso, chateado por ter sido derrotado por Ele, o provocou por não conhecer a descendência e o parentesco. Chateado, Mael Dúin foi atrás da mãe adotiva, a Rainha, dizendo: “Eu não comerei ou beberei até que você me diga que são meus pais verdadeiros”.
Ilustração de um guerreiro celta. Fonte: Pinterest.
“Eu sou sua mãe”, disse a Rainha, “pois ninguém amou seu filho mais do que Eu o amei”.
Mas Mael Dúin insistiu em saber tudo. Então a Rainha o levou até a mãe dele, a freira, que disse para Ele: “Seu pai é Ailill dos Owens de Aran”.
Mael Dúin foi atrás dos próprios parentes, que o receberam bem. Ele tornou-se anfitrião dos três filhos da Rainha e do Rei, irmãos adotivos.
Passou o tempo e Mael Dúin estava entre um grupo de jovens guerreiros que competiam, carregando pedras até o cemitério do que sobrara da Igreja de Doocloone. Ele se plantou no terreno e quando ergueu uma pedra sobre uma laje chamuscada e enegrecida, um monge falou: “Era melhor você vingar o homem que foi queimado aí do que ficar lançando pedras sobre os ossos queimados dele”. Mael Dúin perguntou quem era aquele homem e o monge disse: “Ailill, seu pai”.
Ilustração que apresenta as províncias irlandesas, entre elas, Leinster.
Fonte: Wikipédia.
“Quem o matou?”. O monge respondeu que foram saqueadores de Leix, que o destruíram naquele local. Mael Dúin deixou cair a pedra, se enrolou no manto e foi para casa. Lá perguntou qual era o caminho para se alcançar Leix (Laois). Indicaram-lhe que ficava a sudeste do condado de Leinster, região central da Irlanda e que para chegar lá, só atravessando o mar em direção ao continente, pois habitavam em um arquipélago.
Aconselhado por um druida, Mael Dúin construiu um barco redondo de vime (coracle) e peles lambridas três vezes, umas sobre as outras. O feiticeiro o aconselhou viajar na companhia de dezessete homens apenas, desde o dia da partida até o dia do desembarque.
Quando o grupo já estava a bordo e pronto para içar a vela, começando a se distanciar, os três irmãos adotivos de Mael Dúin chegaram à praia, implorando que os levasse com Ele, o que foi negado.
Mas os três jovens se jogaram ao mar, não querendo se separar do irmão. Mael Dúin deu meia volta, puxando-os para o barco antes que os três se afogassem. Assim, seguiram viagem juntos, desobedecendo ao aconselhamento do feiticeiro.
Continua...
Traduzido, complementado e resumido por Robson José Calixto
Brasília, 08 de setembro de 2017
Fonte: Geddes & Grosset. Celtic Mythology, 1999, Scotland.
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