VERSOS A UM COVEIRO
Augusto dos Anjos
Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!
Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!
Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais:
Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números,
A tua conta não acaba mais!
Raimundo ainda tenho o livro EU de Augusto dos Anjos. Sempre achei que ele era Paraibano.
Rosimar, não sei como ele, negro e pobre, sobreviveu numa sociedade preconceituosa, como era a capixaba daquele tempo.