VERSOS A CLÁUDIO
Luís Edmundo
Olha este riacho azul que vem da serra
E é um fio de cristal que vai rasgando
O seio bom e ubérrimo da terra,
O campo das lavouras fecundando.
Veio claro brotado entre açucenas,
Junto a um rochedo negro e luzidio,
Nem vai ao mar, que o pobre rio apenas
É o simples tributário de outro rio.
No entanto, olhe-se o campo em que ele desce,
A paisagem que o beira e que o emoldura,
O arvoredo copado, o trigo em messe,
Das campinas, a esplêndida fartura.
Tudo é fecundação, vida. A semente
Cai sobre a terra e brota. E, caminhando,
Lá vai ele descendo, lentamente,
A riqueza dos homens espalhando.
Vai; adiante, na curva de um caminho,
Num movimento de águas, em cachão,
Ele é que faz mover o velho moinho,
O trigo moendo e preparando o pão.
E, quando a noite, pelo céu sombrio,
Desce por sobre o campo e sobre a vila,
O homem na paz dos seus bendiz o rio
Que a existência lhe torna mais tranquila.
Deus, ao fazer a natureza, um dia,
Pôs nela toda a luz do seu ensino.
Por isso este regato cristalino
Vale um compêndio de filosofia.
Busca nele, meu filho, o teu retrato.
Sê útil, simples, bom, pra ser humano.
Muita vez a humildade de um regato
Vale todas as glórias de um oceano.