São 55 anos de carreira e mais de 70 trabalhos, entre novelas, filmes e peças. Mesmo assim, Vera Fischer garante que ainda sente um certo frio na barriga ao voltar aos palcos após quatro anos.
— Sempre temos esse medo lá no fundo. Eu me envolvo muito, vou com intensidade, quero fazer pra valer e às vezes sofro. A gente joga o corpo e, aos 70 anos, ele dói— brinca a atriz, que estreia esta quarta-feira (2), no Sesc Copacabana, “Quando eu for mãe quero amar desse jeito”, espetáculo de Eduardo Bakr com direção de Tadeu Aguiar.
Explorando temas como amor, dramas familiares e a relação com o dinheiro numa mistura de tensão e humor ácido, a trama gira em torno de Dulce Carmona, uma mãe obcecada pelo filho, interpretado por Mouhamed Harfouch, que entra em pé de guerra com a noiva dele, vivida por Larissa Maciel.
— Os três se digladiam. Existe uma coisa doentia ali. É uma personagem muito longe de mim. Mas quanto maior o desafio, mais entregamos coisas diferentes. O público vai dizer: “Essa Vera eu nunca vi.”
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A mãe de Rafaella, de 42 anos, fruto do casamento com Perry Salles, e de Gabriel Camargo, de 29, do relacionamento com Felipe Camargo, conta que a encenação passa longe da relação que leva com os filhos:
— Não temos isso de ficar grudados. Nos amamos profundamente, mas é um amor livre. Criei os filhos para o mundo e não para mim.
Vera diz que sofreu um bocado durante a pandemia. Para vencer a saudade de parentes, amigos e fãs, comprou o primeiro celular.
— Foi muito difícil. Parei de comer, de fazer exercícios, emagreci muito. Mas não me deixei vencer— recorda a atriz, que já soma mais de 1,5 milhão de seguidores no Instagram. — Vou continuar fazendo o teatro ao vivo, se não eu morro, porque é o que eu mais amo. Mas temos que respeitar as redes e o streaming e trabalhar com isso.
E ela trabalhou: participou da websérie “Reflexos”, com Cleo (que contou ainda com nomes como Marília Gabriela e Viih Tube). No fim do ano, quando terminar a turnê da peça — que vai rodar o Brasil e irá a Portugal e EUA —, começa a filmar, com Sérgio Malheiros e Gkay, “Quase alguém”, de Daniel Ghivelder, no qual interpreta uma atriz que tenta resolver seus conflitos com a filha.
Os projetos não param aí. Planeja ainda lançar livros (“já estão escritos, só falta editar”) e fazer um leilão das cerca de cem telas que pintou nos últimos dois anos. Além disso, a musa da televisão brasileira pretende criar uma linha de beleza voltada para os cuidados com a pele, para mulheres maduras.
— Sempre me cuidei. Não suporto a ideia de fazer botox. Sou atriz, preciso ter minhas reações no rosto. Não quero fazer plásticas porque atrapalharia o meu trabalho. Mexer no meu rosto, por enquanto, nem pensar— garante Vera.— Um pouco de cuidado é bom, mas acho meio louco essas pessoas que botam peito, bunda, boca, maçã no rosto... Cada um faz o que quer, mas não vou copiar. Todos vamos envelhecer e todos morreremos.
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Ao olhar para trás, a atriz, nas telas com a reprise da novela “O clone”(2001), na Globo, se emociona.
— Não me arrependo de nada. Fiz tudo o que eu quis. Nunca sonhei ser atriz, foi acontecendo e tenho orgulho de ter mantido com dignidade o meu trabalho.
Serviço
Teatro SESC Copacabana: Rua Domingos Ferreira 160. Qua a dom, às 19h. Sessão extra dia 19 (sáb), às 16h. Estreia dia 2 (qua). R$ 30.12 anos. Até 20 de fevereiro.