Dagoberto desde menino teve apego ao dinheiro. Pensa em torno de cifrões, sonha com notas. Sua conversa é irritante sempre falando sobre a bolsa e os rendimentos. Herdou a sovinice de seu pai; rico comerciante e agiota. Seu Hermenegildo era homem ligado aos poderosos, metia-se em negócios e negociatas. Nasceu pobre, tornou-se rico. Na década de 60, embora semianalfabeto e rude, Hermenegildo entrava em qualquer palácio, em qualquer gabinete de deputado. Frequentador assíduo da zona de Jaraguá tinha tratamento especial entre as raparigas e os donos das boates.
Dagoberto tem uma vida semelhante, embora mais letrado e mais fino no trato. O velho terminou seus dias ao lado da única esposa, morreu nos braços de Dona Eulália, mulher de fibra que aguentou mais de 40 anos de traição, raparigagem do marido, e ainda lhe deu carinho, amor e cinco filhos.
Já Dagoberto teve casamentos desmantelados. Sua primeira mulher era uma jovem bonita, família tradicional. Não aguentou as farras, as amantes, e a usura do marido. Com sete anos de casados ela pediu desquite. Noticiada a separação do jovem casal, o motivo alegado pelo próprio Dagoberto foi um par de chifres que Antônia colocou em sua testa. Ele deixou a esposa e dois filhos. Outra versão correu nos fuxicos da cidade: Dagoberto havia forjado as “provas” contra a esposa. Uma carta anônima e um bilhete foram os indícios falsos. Versão mais crédula pelo mau caráter de Dagoberto e a formação religiosa de Antônia, que muito sofreu.
Dagoberto, atualmente solteiro, vive de escusos negócios, falta pouco para gangster. Agiota oficial e informal de políticos, empresta dinheiro a juros altos, com garantia de casa ou carro.
Teve mais dois casamentos desfeitos, mais dois filhos. Mora num belo e luxuoso apartamento na praia de Ponta Verde.
Aprendeu a lidar com o computador para pesquisas, informações de negócios. Sua mania de homem solitário é namorar nas salas de bate-papo na Internet. Conversa até altas horas da noite. “Namorou” e conheceu algumas internautas. Ele se gaba de comer namoradas, conhecidas via Internet.
Numa viagem a São Paulo marcou encontro com Fernanda, “namorada” de bons papos no “chat”. Consultora da Bolsa, ela entende de finanças, excelente conversa.
Dagoberto ficou encantado quando Fernanda entrou no restaurante italiano. Elegante, parecia estar deslizando em uma passarela. Não era alta, nem baixa, sentou-se cruzando as pernas exibidas por uma saia curta. Pele rosada parecia porcelana, sem algum defeito. Ele deslumbrou-se com a jovem de cabelos e olhos negros, sobrancelhas grossas, bem delineadas, nariz afilado e uma boca carnuda que deixou Dagoberto alucinado, lembrava a boca da Angelina Jolie, sua atriz preferida.
Depois do jantar foram a uma casa de dança. Ela sabia que coroa gosta de dançar música suave, com os corpos agarrados. Terminaram a noitada numa confortável suíte do Hotel Pathernon. Quando Fernanda tirou a roupa, Dagoberto ficou louco e excitado. Abraçou-a, beijou-a na boca, no pescoço, derrubou-a na cama beijando-lhe o corpo. O resto é silêncio como diria Shakespeare.
Dagoberto empolgou-se com aquela jovem. Fernanda mostrava-se satisfeita com os carinhos, beijos, carícias do parceiro. Ele se sentiu mais homem, o macho daquela mulher.
Uma semana depois, ela aterrizou em Maceió. Ficaram morando de cama e mesa. Fernanda deu uma mãozinha no escritório. Além de boa de cama era ótima de negócio. Que mais queria Dagoberto? Viviam no céu, em lua-de-mel. Ganhava dinheiro na agiotagem e amava sua musa. Com quase um ano de convivência, Fernanda tornou-se assessora imprescindível ajudava nos pagamentos, no controle dos recebimentos e contas bancárias.
Numa noite de sexta-feira, voltando de uma reunião, Dagoberto não encontrou Fernanda no apartamento. Havia combinado jantar fora. Esperou mais um pouco, telefonou para o celular, deu fora do ar. Telefonou várias vezes. Ficou preocupado, Fernanda era pontual, ela dizia que a maior qualidade de um ser civilizado era a pontualidade. Às 21:30 ele resolveu mexer no guarda-roupa. Não havia sequer um vestido. Telefonou para alguns conhecidos, ninguém sabia do paradeiro da namorada. Foi ao aeroporto, depois de muita investigação descobriu que uma mulher, parecida com a descrição da namorada, havia tomado um avião para S. Paulo no voo das 15:00 horas. O nome de Fernanda não constava na lista de passageiro.
Dagoberto desesperado voltou para o apartamento, tentava lembrar algum amigo comum em São Paulo, não havia.
Na segunda-feira conferiu o desfalque. A namorada deu um abalo em suas contas bancárias de aproximadamente R$ 500.000,00. Fernanda tinha uma procuração para retiradas de pagamento aos funcionários, seu trabalho, sua ajuda.
Dagoberto fez as contas: 10 meses de convivência, média de duas transadas por semana, oito por mês. Custou cerca de R$ 6.250,00 cada vez. Ficou irritado e desesperado. Aconselhado por um investigador pegou um avião para São Paulo. Procurou a Polícia. Em uma Delegacia reconheceram a namorada pela fotografia. Fernanda chama-se Rosa Maria dos Santos, trambiqueira, especialista em golpe da Internet com velhinhos apaixonados. Difícil encontrá-la em São Paulo. Dagoberto sentiu-se humilhado quando o investigador tratou-o como velhinho apaixonado. Retornou ao lar, solteiro novamente, fica à beira do enfarte quando se lembra dos 500 mil.