Raimundo Floriano
Vassourinha aos 12 anos
Mário Ramos de Oliveira, o Vassourinha, nasceu em São Paulo (SP), no dia 16 de maio de 1923.
Já era assim conhecido quando, em 1935, aos 12 anos, foi registrado como contínuo – para driblar a legislação trabalhista de então – na Rádio Record, onde iniciou a carreira de cantor, atuando também no horário noturno.
Começou cantando com o nome de JURACY, porque se tratava de uma nomenclatura neutra. Sua voz tendia para timbres agudos, infantis, daí a ideia de dar-lhe um nome que tanto servia para homem como para mulher.
Vale aqui relembrar a origem do pseudônimo. Havia em São Paulo, no Largo do Paysandu, um motorista de praça negro, muito alegre, apelidado de VASSOURA, pelo fato de, altas madrugadas, levar para casa os últimos freqüentadores do Ponto Chic, reduto preferido dos artistas e da grã-finagem da cidade. Quer dizer, “varria” os retardatários. Figura muito popular na capital paulista seria imediatamente lembrado ao se precisar de eficiente nome artístico para o pretinho Mário. Por analogia, gaiatice, ou seja lá o que for, passaram a inventar que o menino era “filho” do Vassoura, e assim nasceu o VASSOURINHA.
Ainda aos 12 anos, participou do filme Fazendo Fita, dirigido por Vittorio Capellaro. Na Rádio Record, formou dupla com a cantora Isaurinha Garcia, apresentando-se em shows e circos.
Em 1941, foi para o Rio de Janeiro, onde gravou na Colúmbia e atuou na Rádio Clube do Brasil. Nos anos de 1941 e 1942, gravou os seis únicos discos – bolachões, de cera de carnaúba – que deixou. O primeiro, com os sambas Juracy e Seu Libório, fez grande sucesso e o projetou nacionalmente como genuíno herdeiro do consagrado sambista Luís Barbosa.
Entre as demais músicas, destacam-se Emília, que ratificou seu êxito inicial, Amanhã tem Baile, Olga e Volta Pra Casa, Emília. Aliás, todo o seu repertório é até hoje cantado pelos curtidores da Velha Guarda.
A 03 de agosto de 1942, com apenas 19 anos, veio a falecer, em São Paulo, vítima, ao que parece, de uma osteomielite, deixando em sua diminuta discografia o suficiente para consagrar-se como um dos maiores sambistas brasileiros.
Vassourinha aos 19 anos
Na época de sua morte, era grande o elenco de famosos artistas no cenário radiofônico nacional. Astros como Gilberto Alves, Ciro Monteiro, Risadinha, Luís Barbosa, Moreira da Silva, Nélson Gonçalves, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Ataulfo, Alves, Déo, Francisco Alves, Nuno Roland e Roberto Paiva, atuando com o mesmo gênero ou absorvendo seu repertório, fizeram com que o nome do adolescente Vassourinha fosse rapidamente relegado ao esquecimento.
Estas são as 12 músicas que ele deixou gravadas:
Aproveitando ainda os eflúvios futebolísticos do último Brasileirão, no qual o Vasco da Gama gloriosamente conquistou o Vice-Campeonato, ofereço-lhes o samba E o Juiz Apitou, de Wilson Batista e Antônio Almeida, gravado a 15.04.1942.
Quequié? Vice e nada é a mesma coisa? Só mesmo neste Brasilzão querido, onde grandes valores são desprezados apenas pelo simples fato de não terem alcançado o ápice. Relembre você, meu dileto leitor, seus tempos de colegial, quando tirar o segundo lugar em sua Turma lhe dava o maior cartaz com seus familiares e, principalmente, com as mocinhas de sua laia. Ou quando você se classificou em segundo lugar num concurso público de âmbito nacional. Pois então?
A referência ao patrão vascaíno merece que E o Juiz Apitou, composto por flamenguistas, em sadia gozação, chegue agora, decorridos 74 anos, ao conhecimento dos leitores deste Almanaque:
E mais esta pequena amostra de seu repertório:
Seu Libório, samba de João de Barro e Alberto Ribeiro, 1941:
Emília, samba de Haroldo Lobo e Wilson Batista, 1941:
Olga, samba de Alberto Ribeiro e Satyro de Mello, 1941:
Amanhã Eu Volto, samba de Antônio Almeida e Roberto Martins, 1942:
Volta Pra Casa, Emília, samba de Antônio Almeida e J. Batista, 1942: