Acabou-se o tempo em que a vaidade era requisito exclusivamente feminino.
Décadas atrás, ouvi meu avô materno dizer que perfume de homem era o suor. No seu entender, homem de verdade não usava perfume, pois isso era coisa de mulher.
Com a modernidade, o homem passou a ser concorrente da mulher, em matéria de vaidade e também na luta contra a velhice. A vaidade física dos dois é a mesma, a começar
pela pintura dos cabelos e tratamentos em busca de rejuvenescimento.
Minha avó materna, a poetisa Anna Lima, respondendo sobre o que mais temia na vida, disse:
“O que mais temo na vida é a velhice caprichosa/ que faz da moça bonita/ uma carcaça horrorosa/ uma megera maldita”. Palavras fatídicas.
As mulheres detestam dizer a idade, muito mais do que os homens. Todas temem o envelhecimento.
Quando a fachada facial começa a dar sinais de que ela já não tem 24 anos, a mulher entra em ação, para camuflar o início da maturidade. E quando se torna impossível esconder as primeiras rugas, a mulher vaidosa procura logo uma solução, recorrendo aos cosméticos antirrugas ou ao esteticista. Se tiver boa condição financeira, apela para os modismos: “botox”, “pelling”, e, por fim, cirurgia plástica, recursos que cooperam, de forma mais que perfeita, com “as farsas” contra o envelhecimento. E a luta continua, até que se esgotem todos os recursos possíveis e imagináveis, na preservação da juventude.
Mesmo assim, chega um dia em que o prazo de validade da juventude se esgota. E o tempo de vigência da beleza física também.
Pois bem. Matilde era esposa de um político importante do Rio Grande do Norte, e chegou a ocupar o “posto” de 1ª dama de uma importante cidade. Muito vaidosa e rica, todos os anos viajava ao Rio de Janeiro, para “pedir socorro” ao mais famoso cirurgião plástico da época, na luta contra o envelhecimento. A força dos anos pesava sobre ela como uma maldição.
Ao longo de mais de dez anos, submeteu-se a várias cirurgias plásticas e sempre voltava do Rio com cara de menina, “passível de pegar sarampo”. Rosto esticado, silhueta elegante, mas já sem a leveza do andar, própria da juventude.
Induvidosamente, toda luta tem começo, meio e fim. Chega um tempo em que, realmente, a velhice caprichosa “ faz da moça bonita uma carcaça horrorosa, uma megera maldita”.
Matilde, ao se aproximar dos 80 anos, já havia se submetido a todas as cirurgias plásticas que a medicina permitia. Passou por todas as recauchutagens possíveis e imagináveis. Nem o moderno “botox” resolvia mais. Só fazia efeito dois meses e a pele arriava novamente.
Finalmente, na sua última viagem ao Rio à procura de socorro, seu cirurgião plástico usou de franqueza e lhe disse que sua verdadeira idade não lhe permitia mais nenhuma cirurgia plástica. Sua pele estava completamente flácida e não tinha mais elasticidade para ser esticada.
O mundo desabou sobre a cabeça da vaidosa Matilde. Revoltou-se com o médico, mas teve que se conformar. Dessa vez, voltou à sua cidade, sem ter feito nenhum procedimento para rejuvenescer. Olhava-se no espelho, sentia-se uma múmia, e não se conformava com o “veredicto” do famoso médico, de que não adiantava mais fazer plástica.
Não havia base nem pó de arroz que escondesse as rugas do seu rosto. Quem a conhecia sabia que ela tinha sido uma mulher linda, chique e adorada pelo marido, que fazia questão de alimentar a sua excessiva vaidade.
Matilde entrou em depressão e foi obrigada a fazer terapia, para tentar aceitar a velhice.