Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Marcos Mairton - Contos, Crônicas e Cordéis sexta, 08 de fevereiro de 2019

UMA FÁBULA SOBRE LOBOS, OVELHAS E PASTORES (EM DOIS ATOS)

ÁBULA

UMA FÁBULA SOBRE LOBOS, OVELHAS E PASTORES (EM DOIS ATOS)

Marcos Mairton

Imagem de Fábulas Edificantes

PRIMEIRO ATO

Em uma noite fria e úmida – dessas em que só sai de casa quem tem algum motivo muito forte – um lobo solitário vagava na floresta, quando viu, em meio às árvores, a silhueta de uma ovelha.

A noite era de lua cheia, mas a visibilidade estava prejudicada pelas muitas nuvens que havia no céu. As copas das árvores, frondosas naquela época do ano, também formavam sombras que atrapalhavam a visão, mesmo para os olhos de um caçador noturno.

O lobo, então, moveu-se furtivamente – como bem sabem fazer os lobos – até chegar o mais perto possível do seu alvo. Sua boca já salivava, diante da possibilidade de uma refeição fácil, mas estava desconfiado com a presença da ovelha naquela parte da floresta. Ainda mais àquela hora da noite.

E foi-se o lobo, esgueirando-se nas sombras, o mais silenciosamente possível, até chegar a uma distância da sua potencial vítima, que seria facilmente transposta por um de seus poderosos saltos.

 

Naquele exato momento, o animal aparentemente indefeso virou-se para o lado onde o lobo estava, ficando frente a frente com ele. Estavam a menos de três metros um do outro. Olhos nos olhos. Imóveis, como duas estátuas.

Mas essa imobilidade durou apenas alguns segundos. Logo, o caçador abaixou a cabeça, soltou um breve grunhido, e sumiu novamente na floresta, tão silenciosamente como havia chegado. Acabara de perceber que não havia ali ovelha alguma.

O que ele havia visto era outro lobo, apenas estava sob uma pele de ovelha.

Mais interessado em comer que em brigar, o lobo em pele de lobo preferiu sair dali o quanto antes.

Moral do primeiro ato: Um lobo é capaz de reconhecer outro lobo, mesmo quando ele está sob pele de ovelha.

* * *

SEGUNDO ATO

Os dois pastores pretendiam sair de casa no começo da tarde, com destino a uma fazenda vizinha, onde iriam buscar algumas de suas ovelhas que estiveram pastando ali nos dias anteriores.

Acabaram, no entanto, saindo com muito atraso, e, no meio da noite, ainda atravessavam a floresta que havia entre as duas fazendas. Estavam nessa travessia, quando avistaram um lobo esgueirando-se em meio às árvores, como se tentasse surpreender alguma presa.

Com receio de tornarem-se, eles mesmos, comida de lobo, subiram em uma árvore para se proteger. Foi então que, do alto, puderam observar o feroz animal a se aproximar de uma ovelha, que displicentemente circulava por ali.

Ao ver aquela cena, o pastor mais jovem, esquecendo-se de sua própria segurança, chamou o colega mais experiente para ir em socorro da pobre ovelha. O pastor mais velho, no entanto, segurou o mais jovem pelo braço e disse:

– Espere.

– Mas o lobo vai pegar a ovelha, se ficarmos aqui! Somos pastores!

Falou com impaciência, mas baixando o máximo possível a voz, para não serem descobertos antes que pudessem organizar o resgate da ovelha.

– Espere – insistiu o mais velho. – E observe.

O pastor mais velho falou com tanta firmeza que o jovem acabou obedecendo e ficando por ali mesmo. E, qual não foi a sua surpresa, ao perceber que, após estar frente a frente com a ovelha, à distância de menos de um salto, o lobo havia simplesmente sumido na floresta, deixando a presa escapar.

– O que houve? – perguntou o pastor mais jovem.

– Eram dois lobos. Um deles estava sob pele de ovelha.

– E como você percebeu?

– Não sei dizer exatamente, mas desconfiei da maneira confiante como aquela ovelha andava na floresta. Sozinha, a essa hora da noite. Depois, no último momento, o jeito como ela olhou nos olhos do lobo… Ali, tive certeza do que estava acontecendo.

Moral do segundo ato: Pastores também podem reconhecer um lobo sob pele de ovelha. Mas isso requer certa experiência.


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