Esta noite, novamente relendo Neruda, outra vez resolvi escrever-lhe. Ele também tivera dúvidas muito semelhantes às minhas, incertezas que ninguém tivera condição de tirá-las. E eu precisava saber, por exemplo, quantos metros redondos há entre a lua e a minha pata-de-elefante, lá em Gravatá. Também gostaria de descobrir quantos anos-sombra separam a luz do sol do meu cada dia mais distante arrebol. Não sei se algum dos que ora me leem teriam respostas e, em caso positivo, rogo que façam uma carta a Pablo. Lá do alto, em meio a nuvens carregadas de flores e pássaros, ele ficará tão satisfeito que baterá no peito, fará uma rima e talvez até cante. Certamente gostará de descobrir o porquê de depois de um domingo ensolarado surge sempre uma segunda-feira azeda e acinzentada? Será que alguém já foi conferir as roupas da neblina vestindo o céu? E os trovões, por que fazem tanto escarcéu? Tenho que descobrir por que o pintor deixou a noite escura se seu pincel tinha tanta cor mais pura para oferecer? Por fim, algum iluminado me explicaria a razão de tanta alegria na rua da Saudade durante o carnaval, da escuridão da noite na rua da Aurora e de quantos minutos se revestem o asfalto da rua da Hora em pleno rush das 18 horas. Será que Pablo já descobriu tudo isso ou continua a interessar-lhe apenas a reflexão que cada uma das questões provoca em sua poética alma? Ainda estou por saber a cor do perfume que exala do pranto azul das violetas, assunto sobre o qual escrevi um dia desses … Por enquanto continuarei a observar a flor voar de sabiá em sabiá, deixando-me feliz como a chuva que continua a chover toda a sua alegria.
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