Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Violante Pimentel - Cenas do Caminho sexta, 18 de outubro de 2024

UMA BELA AÇÃO (CRÔNICA DA COLUNISTA MADRE SUPERIORA VIOLANTE PIMENTEL)

UMA BELA AÇÃO

Violante Pimentel

Há muitos séculos, Androcles, um escravo romano, foi levado pelo seu dono ao norte da África. Como o amo era muito perverso, a vida do escravo era de maus tratos e sofrimento. Por isso, o negro resolveu fugir, mesmo sabendo que corria o risco de ser morto, caso fosse capturado. Fugiu, para ver se chegava à costa, e se dali poderia voltar a Roma. Esperou uma noite escura e sem lua para sair, secretamente, da casa do amo. Atravessou a cidade e saiu para o campo.

 

 

No meio da escuridão, apressou a marcha, mas, com a luz do dia, viu que, em lugar de ter fugido para a costa, havia caminhado até um solitário deserto. Estava abatido, cheio de fome e de sede. Descobriu a entrada de uma caverna na base de uma colina, penetrou naquele local escuro, deitou-se no chão e dormiu o sono dos justos. De repente, despertou-o um terrível rugido, e de um salto pôs-se em pé, vendo à entrada da caverna um enorme leão. Assombrado, Androcles viu que tinha dormido no covil daquela fera e entendeu logo que, dali, já não poderia sair, pois o animal impedia a passagem. Esperava, horrorizado, que a fera saltasse sobre ele e o matasse. Mas o leão não se movia.

Queixava-se e lambia uma pata, da qual corria sangue. Androcles esqueceu o seu terror e, vendo o sofrimento da fera, aproximou-se. O leão levantou a pata como que a pedir-lhe auxílio. Androcles viu que o leão tinha nela um enorme espinho, que já lhe produzira grande inflamação. Num rápido movimento, extraiu o espinho, deteve a marcha da inflamação e estancou o sangue.

Aliviado da sua dor, o leão saiu da caverna e daí a poucos minutos voltou com um coelho morto, que pôs junto de Androcles. O pobre escravo assou o coelho e comeu-o. Depois, o leão conduziu-o a um sítio onde brotava na terra um manancial de água fresca.

Durante três anos, o homem e a fera viveram juntos, sempre caçando e comendo o que caçavam. Durante a noite, o leão repousava, estendido ao lado do seu benfeitor e movia a cauda de um lado para o outro, como um cão ou um gato que se deita aos pés do dono e se sente feliz.

Finalmente, Androcles sentiu desejos de se comunicar com os seus semelhantes e deixou a caverna, sendo logo preso por uns soldados e mandado para Roma como escravo fugitivo.

Os antigos romanos não tinham piedade com os escravos que fugiam e eram capturados. Por essa razão, Androcles foi condenado a ser despedaçado pelas feras no primeiro dia de festa no circo, que tinha o nome de Coliseu.

Uma grande multidão correu a presenciar o triste espetáculo, e entre os espectadores via-se o próprio imperador de Roma, que tinha no Coliseu a sua cadeira imperial. Rodeado pelos seus senadores, dali contemplava a cruel festa.

Empurraram Androcles para a arena e meteram-lhe na mão uma lança, para que se defendesse da fera que o atacaria. De repente, entrou na arena um enorme leão, que estava sem se alimentar há vários dias, a fim de que se tornasse mais feroz. Apavorado, o escravo se viu sem qualquer esperança de sobrevivência. Naquela arena, num ato festivo para o imperador, os senadores e o povo em geral, sua vida iria chegar ao fim.

Estremeceu, quando o leão esfomeado saiu da jaula. A lança caiu-lhe das mãos, ao ver que o animal, aos saltos, se dirigia para ele. Mas, em vez de o atacar e o derrubar, o leão agitou amigavelmente a cauda e lambeu-lhe as mãos. Então, Androcles viu que o leão era o seu companheiro da caverna. Acariciou-o, inclinou-se sobre a sua cabeça e chorou copiosamente. Ninguém entendia o que estava acontecendo. Incrédulo e decepcionado diante daquela estranha cena, nunca vista na história do Coliseu, o imperador ordenou que se encerrasse a frustrada execução do escravo. O que deveria ter sido uma apoteose, terminou numa grande frustração para as pessoas ávidas por torturas e mortes.

Não obstante, o povo ficou maravilhado com aquela prodigiosa cena, e o imperador mandou chamar Androcles, pedindo-lhe a explicação para o que havia se passado ali.

De tal forma o encantou a narrativa do escravo, que lhe concedeu a liberdade e a dignidade de homem livre, e deu-lhe uma importante soma em dinheiro. Dias depois, Androcles era visto, passeando pelas ruas de Roma, sempre acompanhado pelo seu leão, que o seguia por todos os lugares, como se fosse um cão fiel.


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