UM VOTO
Maciel Monteiro
Enfin, pauvre feuille envolée,
Je viendrais, au gré dês mês voeux,
Me poser sur son froiit, mêlée
Aux boucles de sés noirs cheveux.
VICTOR HUGO. Orienlales.
Se eu fora a flor querida, a flor mais bela
De quantas brilham no matiz, na gala;
Se o meu perfume fora mais suave
Que êase que a rosa no Oriente exala;
Se em volta a mim os zéfiros traidores
Sussurrando viessem bafejar-me,
E com moles blandícias, brandos mimos
Tentassem de minh'haste arrebatar-me;
Se o vário beija-flor tão feiticeiro,
Desprezando uma a uma as demais flores,
Em meu virgíneo, delicado seio
Depusesse seus beijos, seus amores;
Num vaso de esmeralda eu não quisera
Os aposentos decorar brilhantes
Do soberbo Nababo de Golconda,
Que pisa em per'las, topa nos diamantes.
Tão pouco eu cubiçara ornar o seio
Dessa jovem britânica princesa;
Em quem o brilho do diadema augusto
Luz menos que os encantos da beleza.
Pousar, senhora, fora o meu desejo
Em vossa fronte tão serena e bela,
E fazer que cm seu voo o tempo rápido
A asa impura não ouse roçar nela.
Como um raio da vossa formosura
Refletiria em mim seu fogo santo
Como a fragrância dos cabelos vossos
Dera a minha fragrância novo encanto!
Aí como vaidosa eu ostentara
Todo o meu esplendor. E qual rainha
Num trono de ouro ousara disputar-me
Minh'alta condição c a glória minha?
Mas já que a flor não sou apetecida
(Que o não consentem fados meus adversos)
Não recuseis, senhor, a flor silvestre
Que o bardo vos of´rece nestes versos.