UM SONHO
Maciel Monteiro
Ela foi-se! E com ela foi minh’alma
N’asa veloz da brisa sussurrante,
Que ufana do tesouro que levava,
Ia... corria... e como vai distante!
Voava a brisa e no atrevido rapto
Frisava do Oceano a face lisa:
Eu que a brisa acalmar tentava insano,
Com meus suspiros alentava a brisa!
No horizonte esconder-se anuviado
Eu a vi; e dois pontos luminosos
Apenas onde ela ia me mostravam:
Eram eles seus olhos lacrimosos!
Pouco e pouco empanou-se a luz confusa,
Que me sorria lá dos olhos seus;
E dalém ondulando uma aura amiga
Aos meus ouvidos repetiu adeus!
Nada mais via eu, nem mesmo um raio
Fulgir a furto a esperança bela;
Mas meus olhos ilusos descobriram
Numa amável visão a imagem dela.
Esvaiu-se a visão, qual nuvem áurea
Ao bafejar da vespertina aragem;
Se aos olhos eu perdia a imagem sua,
No meu peito eu achava a sua imagem.
Ela foi-se! ... E com ela foi minh’alma
Na asa veloz da brisa sussurrante,
Que ufana do tesouro que levava,
Ia... corria... e como vai distante!