A cordelista recifense Mariane Bigio, graduada em Comunicação Social e especialista em Literatura de Cordel
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A roupa que a gente veste
A roupa que veste a gente
A gente andava pelado
Isso foi antigamente
O Índio ‘inda anda assim
Se porta naturalmente
A gente é que se reveste
A roupa que a gente veste
A roupa que veste a gente
Tanta roupa diferente
Cada qual do seu jeitinho
Camisa, calça, vestido
Bem comprido ou bem curtinho
Tem roupa de ir à praia
Tem sunga, biquíni, saia
Tem maiô e tem shortinho
Se fizer um friozinho
A roupa faz ficar quente
Tem casaco, meia e gorro
Pra que o calor se sustente
No tecido é que se investe
A roupa que a gente veste
A roupa que veste a gente
Pode ser que o clima esquente
E o suor pingue da testa
Tem tecido leve e fino
Estampas fazem a festa
As mangas cortadas fora
Chapéus vêm em boa hora
Fazendo sombra modesta.
Às vezes a gente empresta
Pega emprestado também
Às vezes a gente ganha
A roupa que foi de alguém
Roupa usada do brechó
Roupa antiga da vovó
Bem miúda pro neném.
A roupa vai muito além
De uma casca exterior
Não precisa ser de marca
Nem ser cara, não senhor
Ser confortável convém,
Se ela nos faz sentir bem
Já é de grande valor.
Em uma história de amor
Caso haja um casamento
O traje de quem se casa
De acordo com o sacramento
Traduz significados
Nas roupas representados
Neste especial momento.
Pra nos proteger do vento
Um cachecol bem felpudo
As luvas vestem as mãos
Sendo de lã ou veludo
A roupa preta é pro luto
Padrão pro atleta astuto
Tem mesmo roupa pra tudo.
Até merecem estudo
As famosas vestimentas
De alguns ícones da história
Cuja a roupa salienta
Sua singularidade
Faraós na Antiguidade
Madona aos Anos Oitenta.
A lista aqui só aumenta
Elvis Presley com seu brilho
As moças de antigamente
As que usavam o espartilho
A Gueixa com seu Quimono
Pijama é pra quem tem sono
E os versos seguem seu trilho.
Às vezes de pai pra filho
A roupa é feio uma herança
Tem a batina do padre
Que batiza uma criança
Tem roupa que é fantasia
Se o carnaval principia
Pra poder entrar na dança.
Cor verde traz esperança
Para quem acreditar
Que a roupa muda o astral
E pode nos transformar
Tem roupa que comunica
Como bandeira que indica
À que viemos lutar.
A roupa pode falar
Simbolizar a Cultura
Através da indumentária
Um Povo se configura
Beleza que não se poupa
Uma ciranda de roupa
Que no mundo se costura.
São as cores, a textura
Fios a se entrelaçar
Tem as máquinas e as tinturas
Agulha, linha e tear
Norte ou sul, leste, oeste
A roupa que a gente veste
Tem histórias pra contar.
Roupa sempre vai mudar
A moda é sua regente
O estilo é particular
Da vitrine é independente
Do Nordeste ao sudeste
A roupa que a gente veste
A roupa que veste a gente!