RIO - Após uma campanhapresidencial marcada pela polarização entre esquerda e direita, com episódios deradicalização , mais de 147 milhões de eleitores irão às urnas hoje pela oitava vez após a redemocratização.
Nas últimas pesquisas antes do primeiro turno, Jair Bolsonaro (PSL), o capitão reformado que deixou o baixo clero para empalmar a bandeira do antipetismo, tem 41% dos votos válidos no Ibope e 40% no Datafolha e busca uma vitória no primeiro turno, o que não acontece há 20 anos.
Seu maior adversário, o petista Fernando Haddad apostou na personificação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que completa seis meses preso hoje em Curitiba, condenado em segunda instância por corrupção. A estratégia o catapultou de 4% há um mês para os mais de 25% dos votos válidos nos levantamentos de ontem, o que o colocaria no segundo turno.
Principal aposta de quem rejeita tanto o bolsonarismo quanto o lulismo na reta final da campanha, Ciro Gomes (PDT) tentava ganhar impulso para ultrapassar Haddad, mas foi uma aposta de terceira via que até ontem não emplacou. Com 13% dos válidos, dificilmente terminará à frente do ex-prefeito de São Paulo.
Nada representa mais a eleição da pulverização do centro que os desempenhos de Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede). Com um discurso técnico e um apelo à razão, o ex-governador de São Paulo não conseguiu decolar e corre o risco de terminar a campanha com menos votos do que tinha quando começou, mesmo com quase a metade de todo o tempo de propaganda na televisão. Confirmado seu fracasso, será a primeira vez desde 1994 que o PSDB não chega ao segundo turno.
A situação da ex-senadora é ainda mais cruel. Pode terminar a eleição como “nanica”, depois de ter recebido cerca de 20 milhões de votos em 2010 e 2014.
Campanha curta e intensa
Se mesmo para políticos consolidados como Marina ou com forte estrutura partidária como Alckmin a campanha polarizada não deu brechas, a situação ficou ainda mais difícil para os novatos. A disputa com o maior número de candidatos desde 1989 não teve surpresas fora das primeiras posições. Da esquerda, onde o líder sem-teto Guilherme Boulos (PSOL) buscou fincar os alicerces de sua candidatura, à centro-direita, a partir da qual o liberal João Amôedo (Novo) tentou energizar seus partidários, ninguém surpreendeu.
Embora tenha sido mais curta que as anteriores, com um início mais tardio e menos dias de propaganda eleitoral na TV, poucas vezes se viu uma campanha tão intensa como esta: em 6 de setembro, há apenas um mês, o líder nas pesquisas, Bolsonaro, foi esfaqueado quando era carregado por partidários em Minas Gerais, um atentado inédito nas campanhas presidenciais; o segundo colocado, Haddad, bateu ponto na sede da PF em Curitiba nada menos do que 15 vezes (11 como coordenador de campanha e outras quatro depois que foi ungido) para ouvir Lula, que tentou levar a candidatura até as últimas consequências, mesmo enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
Foi também a primeira campanha verdadeiramente digital do Brasil. A força de Bolsonaro nas redes sociais e nos mais de 1.500 grupos de Whatsapp comandados por seus aliados se sobrepôs à força tradicional do marketing eleitoral, que também minguou sem os muitos milhões das doações empresariais, proibidas pela primeira vez.