Menino e o sonho de ser jogador profissional
Naquele lugar estranho, com tanto sol e pouca sombra, às vezes o calor impunha o ócio, como se fosse algo hipnótico. A pouca água que se tinha notícia, naqueles dias, era o suor de quem se expunha ao sol.
Mas, com um objetivo, Badiu não dava muita atenção às intempéries – e até conseguia esquecer o calor, por vezes bebendo o suor que lhe corria pelas faces negras, e ao mesmo tempo, molhando o sal que o corpo expelia. Como se árvore fosse, e estivesse vivendo o processo de fotossíntese.
Entre o calor que queimava, o suor salgado que corria pálpebras abaixo, e a falta de uma pequena sombra que fosse, Badiu optava por correr atrás da bola.
Era a sua bola. A bola feita por ele – com pedaços de papel velho, e barbantes recolhidos no lixo.
Não era a bola que ele queria e sonhava. Mas, era uma bola sim!
– “Um dia desses serei um jogador bom, famoso, e com dinheiro suficiente para sustentar minha mãe, e comprar muitas bolas para as crianças”!
A bola na qual Badiu mantinha suas esperanças
Badiu aprimorava seu estilo de jogar, a cada dia. Jogava só. Não tinha adversários além do calor, e da falta de sombras.
Certo dia resolveu construir os traves, para onde mandaria a bola e faria vários gols. Golaços. Paus velhos, tiras velhas e pedaços de plásticos – o que garantiria aquele som inconfundível e uníssono das torcidas, quando acontece um gol do time preferido.
Eis que, num fim de manhã, ao chegar ao local do “treino”, Badiu encontrou seus traves destruídos, jogando ao léu todo seu esforço e ansiedade para um dia se tornar um jogador profissional.
Traves erguidas pela imaginação e carência infantil
No lugar do suor que caía pelo rosto, lágrimas tomaram o lugar. No lugar da alegria, o desespero por sentir que estava perdendo a chance de um dia ser alguém.
Ali onde Badiu aprendia na solidão, tendo como adversários o calor e a falta de sombra, seria erguido um conjunto residencial.
É sempre assim!