Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Pedro Malta - Repentes, Motes e Glosas sábado, 27 de julho de 2024

UM CORDEL SOBRE USOS E COSTUMES (POSTAGEM DO COLUNISTA PEDRO MALTA)

Antônio Batista Guedes (1880-1918) foi um poeta e cantador popular pernambucano.

* * *

COSTUMES E USOS ANTIGOS – Antônio Batista Guedes

Leitor não vos enfadeis
Em ler a apreciação
Que sobre usos e costumes
Faço com toda atenção
E depois direis comigo
Que os usos do tempo antigo
Bem diferente hoje são

Este mundo, antigamente
Uma lei só o regia
Era outra educação
O tempo melhor corria
Mas cresceram as vaidades
E hoje se vê novidades
Que dantes jamais se via

Para provas do que digo
Temos o nosso Brasil
Foi monarquia é república
Suas leis são mais de mil
Delas a que é mais certa
E que mais o povo aperta
É o casamento civil

Qualquer homem sem escrúpulo
Que se casa atualmente
Só com o poder – como dizem,
Os matutos geralmente –
Da mulher se abusando
E de outra se agradando
Pode casar civilmente

E o que abusar da lei
E casar só com efeito
No casamento católico
Ao governo está sujeito
Morrendo milionário
Filho e mulher no inventário
A nada têm direito

Não se via antigamente
Tão grande devassidão
Os pais de família usavam
A mais séria educação
As famílias que criavam
A bailes não frequentavam
Temiam a religião

 

Um menino antigamente
Se por um caminho ia
E um velho encontrava
Logo a bênção lhe pedia
Hoje em lugar de a bênção
Eles fazem é mangação
Até da mãe que os cria!…

Se estavam duas pessoas
Conversando em um salão
Um menino não passava
Entre elas, isto não,
E se na conversa entrasse
Sem que alguém o chamasse
Sofria repreensão

Hoje, estão duas pessoas
Conversando em uma sala
Passa um menino entre elas
O pai vê porém não fala,
Se fala o filho lhe diz
Que ali passou foi porque quis
O pai o ouve e se cala

Hoje um pai faz o cigarro
O filho pede e acende
Não o achando bem feito
Da forma que ele entende
Diz ao pai pilheriando
Que ele morre fumando
E a fumar não aprende!

Os filhos antigamente
Respeitavam muito aos pais
Não fumavam em sua vista
Não diziam ditos tais
Brinquedo algum frequentavam
E jogo, os que jogavam
Era oculto demais

Hoje o pai vai para o jogo
Lá o filho está primeiro
E os dois na mesma roda
Se põem a jogar dinheiro
Dito vem, pilhéria vai
Entre ambos, filho e pai
Um do outro é parceiro

Os irmãos antigamente
Não eram tão desunidos
Arengar uns com os outros
Pelos pais eram proibidos
E os que eram teimosos
Por castigos rigorosos
Então eram repelidos

Hoje um irmão com outro
Questiona, faz afronta
Os pais ralham, ameaçam
Eles não os levam em conta
Não têm aos pais atenção
Somente a malcriação
Trazem da língua na ponta

Antigamente os pais
Tinham mais religião
A família que criavam
Tinha a obrigação
De aprender a doutrina
E respeitar a lei divina
Com jejum e confissão

Hoje então, o que é que vemos?
São os tais pais de família
Proibir a confissão
E levar filhos e filhas
Pra teatros imorais
E cinemas inda mais
E, indecentes quadrilhas

No povo dos tempos idos
Havia mais inocência,
No de hoje só há maldade
Vaidade e experiência
Pelo que enfim traduzo
Hoje o namoro e o uso
São artes de bem ciência

Os tais namoros modernos
São em si tão corrompidos
As namoradas são falsas
Os namorados fingidos!
Quanto ao uso então os povos
Vão descobrindo usos novos
Os velhos foram esquecidos

De primeiro uma senhora
Fazia um bom vestido
Com nove côvados de chita
E dizia ao marido:
Não deu seu dinheiro à toa
Porque a fazenda é boa
De um pano largo e fornido

Hoje qualquer mulherzinha
Compra quinze e dezesseis
Côvados de chita bem larga
E inda acha escassez
No pano e diz ao marido:
Não saiu o meu vestido
Como o que fulana fez

Antigamente os casacos
Nas saias eram pregados
Tudo muito simplesmente
Sem rodapés nem babados
Eram uso inocente
Que faziam igualmente
Os pobres e os ilustrados

Hoje as senhoras fazem
O casaco decotado
A saia com bico e renda
E às vezes mais de um babado
Camiseta e saiote
Gola, ponta e decote
E o mais que achar de agrado

As fitas antigamente
Eram para anjo e santo
Hoje as senhoras moças
Com fitas se enfeitam tanto
Botam fita com fartura
No cabelo, na cintura
No casaco em todo canto

Antigamente usavam
Botão, anquinha e corpinho
Hoje, é o espartilho
E um cinto apertadozinho
Quem viu na antiga data
Mulher andar de gravata
Punhos, chapéu, colarinho?

São inúmeros os usos
Que pelo mundo se espalham
Com os quais mulheres pobres
Com as ricas o uso igualam
Enfim ricos e pobres
Gastam com usos os cobres
Que a alguns maridos atrapalham

Além dos usos de roupa
Elas fazem igualmente
Tantos usos no cabelo
De admirar a gente
Eu digo sempre comigo
Que o uso do tempo antigo
Era em tudo diferente

Antigamente as mulheres
Usavam trança e cocó
Hoje é as tais pastinhas
Guaribado e bendegó
E tem alguma que gosta
De uma trança suposta
Quando o cabelo é cotó

Moças de cabelo bom
Eu vejo hoje enfim
Encrespá-lo com papel
Para ficar pixaim!
Que uso mal entendido
Devia Deus ser servido
De cabelo ficar ruim!

Enfim são tantos os usos
Que faz a gente pensar
Que ainda se vai ver coisa
Do diabo se admirar
Eu digo e ninguém se ofenda
Já vi homem fazer renda
E mulher almocrevar

O certo é que todo uso
É sempre um gosto perdido
Porque vexa quem é pai
Aperta quem é marido
Faz irmão comprar fiado
Com isso o pobre coitado
Dos bolsos fica abatido.


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros