Xavier estava sentado, com os cotovelos sobre a mesa e o queixo apoiado nas palmas das mãos. Havia um murmúrio de vozes, mas ele parecia alheio ao que se passava ao seu redor.
Com os olhos fechados, podia ver, no fundo da sua mente, a rua lá fora.
Mas não havia ninguém ali. As calçadas, as praças, tudo estava vazio. Se alguém aparecia, caminhava apressado, olhando para os lados, como se estivesse fugindo de alguma coisa.
Um ruído o trouxe de volta ao bar. Um leve ruído. Porcelana tocando madeira. Em seguida, uma voz:
– Senhor… seu café…
O cheiro agradável da bebida encheu suas narinas. Agora ele ouvia as vozes e risos ao seu redor.
Xavier abriu os olhos. Percebeu a fumaça saindo do líquido escuro na xícara.
Ergueu-se e olhou para o garçom. Sem dizer uma palavra, o abraçou como se fossem velhos amigos.
E assim comemoraram o fim da pandemia.
(*) Este é meu último conto de 2020 no JBF. Que ele seja como uma profecia para 2021. Agradeço a todos os fubânicos que dedicaram algum tempo aos escritos desta coluna. FELIZ ANO NOVO!