Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlito Lima - Histórias do Velho Capita quarta, 18 de janeiro de 2017

UFC NO CAMPO SANTO

 

Naquela manhã, dia de finados, Norminha tirou o carro da garage, distraída, pensava no marido e como foi traída. Pela primeira vez retornava ao cemitério desde os acontecimentos no enterro, afinal passaram 18 anos juntos. Fernandinha, a filha de 14 anos, perguntou se ia encontrar a Adélia, filha do pai com a outra mulher.

– Deus me livre, nunca mais em minha vida quero ver aquela desgraçada, vadia, sirigaita, enfeitiçou o finado seu pai, ainda fez essa filha. É sua irmã, por parte de pai, apenas. Não quero e você está proibida de fazer amizade com essa moça.

Mal sabia Norminha, as duas estudavam em colégios do CEPA, são amigas desde que descobriram serem meio irmãs, filhas do Peixotinho, funcionário exemplar da Rede Ferroviária. Norminha rumou para ao cemitério, Fernanda ao lado, calada, a mãe em devaneios.

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Fernando Lyra Peixoto, ainda jovem, conseguiu um emprego na Rede Ferroviária com um deputado amigo da família, assíduo e trabalhador, todos os chefes gostavam daquele servidor, gentil. Sempre arranjavam uma maneira de uma função gratificada. Peixotinho não reclamava o salário de funcionário, tinha outra viração, emprestar dinheiro, um pequeno agiota, controlado, morava com a mãe viúva. Adolescente descobriu uma das coisas mais importante em sua vida, sexo e mulher. Carinha de santo, sonso que só o cão, uma lábia de encantar mulheres, vivia atrás das empregadas na vizinhança, os amigos o apelidaram maldosamente, Rei das Peniqueiras.

Guardou seu dinheirinho ganho na repartição, tinha casa, comida e roupa lavada. Por acaso investiu na agiotagem, um amigo desesperado pediu-lhe emprestado, pagou-lhe com juro de 10%, Peixotinho gostou, tornou-se agiota, investia também em apartamentos pequenos, o aluguel aumentava sua renda. Solteiro, gostava mesmo de uma garota de programa, teve poucas namoradas. Certo dia percebeu, os amigos de infância estavam casados. Aos 30 anos resolveu se casar, namorou e casou-se com Norminha, três anos depois apareceu sua filha, Fernandinha. Homem sério, todos admiravam, Norminha não cansava de se orgulhar, pelo Peixotinho botava a mão no fogo.

Certo dia amanheceu com a garganta inflamada, ao tomar algumas injeções na farmácia, conheceu a enfermeira, Ana, bonita morena, mãe solteira, vivia com o filho e o pai no bairro do Jacintinho. Trabalhava muito em hospital e dava plantão em farmácias fazendo curativos, aplicando injeções para sustentar a casa. Peixotinho empolgado com a sensualidade da jovem, retornou à farmácia paquerando abertamente Aninha. Sua insistência e lábia conseguiram levá-la a um motel. A partir daí teve encontros semanais com a carinhosa enfermeira, preenchendo parte de sua vida amorosa. Aninha engravidou quase ao mesmo tempo que Norminha, as duas filhas nasceram com diferença de um mês. Ana não fazia questão em ser a “outra”, afinal Peixoto ajudava muito, até cedeu um de seus apartamentos para moradia de Ana, o pai e os filhos. Peixoto conseguiu guardar esse segredo durante 15 anos. Certa manhã, na repartição, sentado, de repente veio-lhe suor frio, dor aguda no peito, a dor aumentou, caiu a cabeça para frente no birô, infarto fulminante. Morreu feito um passarinho.

Dia seguinte no enterro Norminha percebeu uma morena junto à filha adolescente, as duas chorando no caixão, quis saber quem eram aquelas intrusas. Everaldo, amigo, confidente de Peixotinho, contou-lhe a verdade. Norminha partiu desesperada, puxou Aninha e a filha do caixão, chamando-a de vadia, deu tapa na cara, alguns amigos intervieram botando paz no enterro. Depois de alguns meses, as duas, encontraram-se em audiência, brigando pela herança de Peixotinho. O “come quieto” deixou onze apartamentos pequenos.

Naquele dia de finado finalmente Norminha chegou ao Campo Santo, uma orquestra tocava as Bachianas de Villa Lobos enchendo o ambiente de saudades. Cemitério lotado, Norminha e Fernandinha dirigiram-se ao túmulo de Peixotinho, ao ver, ao longe, Aninha e filha ajoelhadas colocando flores no túmulo do marido, a viúva partiu em disparada, na velocidade que vinha rodou a bolsa na cara da “outra”, atordoada, levou murro na cara, ao cair revidou puxando o cabelo de Norminha. Atracaram-se no chão xingando-se mutuamente de vadia e puta. Ninguém teve coragem de apartar a briga, as duas rolaram, puxaram cabelo, deram tapas, jogaram areia, por mais de cinco minutos. Precisou dois policiais para terminar o briga. Perante o Delegado as duas tiveram que explicar para não ser enquadradas em perturbação da ordem pública. Uma coisa ficou clara, o UFC do Campo Santo ainda terá mais rounds.


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