Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sábado, 30 de abril de 2022

TURISMO: NA ESPANHA, OS ENCANTOS DE UM VILAREJO ONDE HÁ MAIS LIVREIROS DO QUE ALUNOS

Por Raphael Minder / 2022 / The New York Times

 


Vista aérea de Urueña, povoado no interior da Espanha — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Vista aérea de Urueña, povoado no interior da Espanha — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Situada no topo de uma colina no noroeste da Espanha, Urueña dá vista para uma paisagem ampla e varrida pelo vento que inclui campos de girassóis, de cevada e uma vinícola famosa. As paredes de algumas lojas foram erguidas lado a lado com as muralhas do século XII que a circundam.

Apesar de toda essa beleza rústica, e como muitos vilarejos no interior espanhol, há décadas ela vem enfrentando problemas por causa do encolhimento e do envelhecimento da população, estagnada em apenas cem moradores em tempo integral. Aqui não há açougueiro nem padeiro, já que ambos se aposentaram há alguns meses; a escola conta com apenas nove alunos. Nos últimos dez anos, porém, um setor que vai de vento em popa é o literário: há 11 casas comerciais que vendem livros, sendo nove especializadas.

— Nasci em um vilarejo que não tinha livrarias, onde as pessoas se preocupavam muito mais em cultivar a terra e criar animais do que ler. Essa mudança é meio estranha, sim, mas não deixa de ser motivo de orgulho um lugar minúsculo como este ter se tornado um centro cultural, o que sem dúvida nos diferencia e nos torna especiais em comparação com as aldeias à nossa volta — afirma o prefeito Francisco Rodríguez, de 53 anos.

Urueña, o vilarejo no interior da Espanha que virou atração turística para amantes dos livros

A livraria Páramo, uma das 11 que funcionam em Urueña, cidadezinha no interior da Espanha com apenas cem habitantes — Foto: Samuel Aranda/The New York Times
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Com uma população fixa de apenas cem pessoas, cidadezinha a duas horas de Madri tem 11 livrarias

A tentativa de transformar Urueña em um centro literário vem de 2007, quando as autoridades da província investiram três milhões de euros para ajudar a restaurar e converter as construções locais em livrarias e construir um centro de exposições e conferências. E fizeram uma oferta de dez euros mensais como aluguel simbólico para os interessados em administrar um dos negócios.

O plano era manter a aldeia viva graças ao turismo de livros, imitando o de outros centros literários rurais europeus — mais notadamente Montmorillon na França e Hay-on-Wye no Reino Unido, que organiza um dos festivais mais famosos do continente.

A Espanha é dona de um dos maiores mercados editoriais da Europa, que alimenta uma rede de cerca de três mil livrarias independentes — e o dobro disso se contarmos as papelarias e outras casas comerciais que também vendem livros.

— No entanto, 40% delas têm um lucro anual de menos de 90 mil euros, o que as coloca na categoria de "subsistência". Nesse setor, tamanho é documento; a tendência é que as menores desapareçam, como se dá em outros países onde essa é uma indústria consolidada — explica Álvaro Manso, porta-voz da Cegal, associação que representa as livrarias independentes espanholas.

Crianças brincam no letreiro que descreve Urueña como a 'cidade do livro' na Espanha — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Crianças brincam no letreiro que descreve Urueña como a 'cidade do livro' na Espanha — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Para ajudar as empresas menores a competir, o Ministério da Cultura da Espanha injetou nove milhões de euros em subsídios para a modernização e a digitalização do setor.

— A sobrevivência dessa imensa rede de livrarias na Espanha, onde os níveis de leitura não são particularmente altos, é um dos grandes paradoxos deste país, mas acho que também porque vivemos em uma bolha literária. Como o aluguel é baixo, dá para sobreviver financeiramente vendendo usados, que vão desde clássicos da língua espanhola, como "Pedro Páramo", em que me inspirei para dar nome à loja, até HQs como Tintin. De quebra, tenho uma exibição de 50 modelos de máquinas de escrever que supostamente foram usados por nomes como Jack Kerouac, J.R.R. Tolkien, Karen Blixen e Patricia Highsmith — disse Victor López-Bachiller, de 47 anos, dono de uma livraria e um dos cem residentes em tempo integral de Urueña, dos quais a maioria é de aposentados.

 

 

A jornalista Tamara Crespo e seu marido, o fotógrafo Fidel Raso, compraram uma casa em Urueña em 2001, antes da iniciativa de torná-la um centro literário, mas também abriram uma livraria especializada em fotojornalismo.

As muralhas do século XII que circundam o vilarejo de Urueña, no noroeste da Espanha — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

As muralhas do século XII que circundam o vilarejo de Urueña, no noroeste da Espanha — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Rodríguez, o prefeito, reconheceu que o fato de se tornar um destino turístico não garante que as pessoas de fora queiram se mudar e manter o vilarejo vivo:

—A aposentadoria recente de alguns comerciantes é prova disso. Infelizmente, não conseguimos encontrar ninguém mais jovem disposto a assumir o açougue.

Com isso, o pão matinal e a carne estão sendo entregues pela aldeia vizinha.

 

 

Ele prevê que a demografia desfavorável da Espanha rural — fenômeno conhecido como "La España Vacía", ou "Espanha Vazia" — continue sendo um desafio para a sobrevivência da área. Apesar disso, a iniciativa literária vem dando frutos: Urueña foi escolhida para receber os subsídios por causa da beleza local, das peculiaridades arquitetônicas e da localização relativamente fácil, na saída de uma rodovia no noroeste do país, a pouco mais de duas horas de carro de Madri e a menos de 50 quilômetros da cidade medieval de Valladolid.

Isaac García em sua livraria Grifilm, especializada em cinema, é um dos que apostaram em Urueña, na Espanha  — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Isaac García em sua livraria Grifilm, especializada em cinema, é um dos que apostaram em Urueña, na Espanha — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

O departamento de turismo local registrou 19 mil visitantes em 2021, mesmo em plena pandemia. Segundo as autoridades, o número real foi muito mais alto porque os excursionistas que chegam só para passar o dia não se registram na sede. Urueña também recebe cerca de 70 mil euros por ano em dinheiro público para organizar eventos culturais como aulas de caligrafia, apresentações teatrais e conferências.

Isaac García, dono de uma livraria especializada em livros sobre cinema, já morou com a companheira, Inés Toharia, na periferia de Hay-on-Wye, o paraíso dos livros do País de Gales, e não pensou duas vezes em agarrar a oportunidade de ter o próprio negócio no centro da Espanha:

— Nossa ideia era poder unir uma grande iniciativa com o estilo de vida dos nossos sonhos, mas na nossa terra natal. É claro que Hay teve muito mais tempo para se estabelecer, mas acho que Urueña, aos pouquinhos, também chega lá.

Eles, às vezes, usam a parede dos fundos da loja para a projeção de filmes, mas as poucas tentativas de instaurar exibições noturnas ao ar livre se mostraram complicadas demais.

— O vento é muito forte — justificou.

Pessoas caminham nas ruas da pequena Urueña, que recebeu cerca de 19 mil visitantes em 2021 — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Pessoas caminham nas ruas da pequena Urueña, que recebeu cerca de 19 mil visitantes em 2021 — Foto: Samuel Aranda/The New York Times

Mas, mesmo antes da chegada das livrarias, Urueña tinha lá suas atrações culturais — como Joaquín Díaz, morador de longa data, que é cantor de músicas de raiz e etnógrafo. Ele saiu de Valladolid nos anos 1980 e hoje, aos 74 anos, vive em um prédio antigo, onde reuniu uma vasta coleção de instrumentos, livros e gravações tradicionais. Sua casa, aliás, foi transformada em museu pelas autoridades da província, há 30 anos.

— Sou realista, não acredito em excesso de nostalgia — comentou, referindo-se à perda de lojas e setores em vilarejos como Urueña. — No geral, a vida é muito mais fácil no interior da Espanha hoje do que há 50 anos, e ninguém jamais poderia imaginar, quando cheguei aqui, que o comércio de livros é que ajudaria a manter a cidade viva.

 


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