Conhecido por ter um dos litorais mais bonitos do país, o estado de Alagoas ainda não conta com áreas de naturismo, como as praias de Tambaba, na Paraíba, ou Massarandupió, na Bahia. O primeiro passo, no entanto, pode estar sendo dado por uma pequena pousada em Maragogi, endereço das piscinas naturais mais famosas do Nordeste. A partir de agosto, o topless será liberado dentro da pousada RiiA.
A iniciativa é o desdobramento de uma campanha que os proprietários da pousada, o paranaense Derek Riva e a gaúcha Mari Maia, fizeram em outubro de 2021. Ao longo daquele mês, como forma de chamar a atenção para a conscientização do câncer de mama durante o Outubro Rosa, as hóspedes que quisessem poderiam circular sem a parte de cima da roupa.
— O câncer de mama sempre foi um assunto que me tocou muito. Minha madrasta enfrentou, e venceu, essa doença, e desde então faço questão de apoiar o Outubro Rosa. Para chamar a atenção para esse tema, decidimos liberar o topless durante um mês no ano passado — conta Riva, que conheceu a esposa Mari quando os dois trabalhavam como comissários de bordo.
Piscina da Pousada RiiA, em Maragogi, em Alagoas, que irá permitir o topless a partir de agosto — Foto: Divulgação
Ele lembra que umas dez hóspedes entraram na onda. Metade delas só para fazer fotos à beira da piscina. As demais aderiram à prática por mais tempo, e se mostraram bem mais à vontade e relaxadas. Foi o comportamento destas que inspirou o casal a pensar em permitir a prática de maneira definitiva.
— Não será obrigatório, é claro. Apenas quem quiser fazer, vai poder fazer. Quando nos decidimos, escolhemos um mês que ainda estivesse com a agenda vazia, para que quem fizesse reserva nessa data já soubesse dessa condição — explica Riva.
Para chegar à essa conclusão, o proprietário conta que foram feitas muitas pesquisas, tanto nas redes sociais da pousada quanto com hóspedes. A resposta foi positiva na maioria dos casos. E para quem demonstrava alguma dúvida, Riva tinha sempre uma analogia na ponta da língua:
— Houve um hóspede que me disse que gostava muito da pousada, mas que ficaria desconfortável. Perguntei a ele se ele gostaria de ir à praia em Barcelona. Ele me disse que sim, e respondi que lá o topless é muito popular e aceito. Se isso não o impede de ir a Barcelona, então também não deveria ser um problema aqui. Na hora ele mudou de ideia.
Praia de Barra Grande, onde fica a Pousada RiiA, em Maragogi, Alagoas — Foto: Divulgação
A iniciativa de permitir topless em sua pousada pode ser uma maneira de os proprietários se destacarem no concorrido mercado de hospedagem de Maragogi, um dos principais destinos turísticos não só de Alagoas, mas de todo o Nordeste. Mas não é gratuita. O casal é praticante de naturismo e acredita no potencial deste estilo de vida da região onde vivem há três anos.
— Nós costumamos ir a Tambaba, que está a três horas e meia daqui. É um lugar incrível, recomendo muito, mas acho que poderia haver algo assim em Alagoas também. Por aqui temos muitas praias ainda desertas, onde se faz um naturismo, digamos, "não oficial". Japaratinga, por exemplo, seria um ótimo lugar para isso. Ela é linda, mas vive à sombra de Maragogi. O naturismo seria uma forma de colocá-la no mapa — defende o empresário, que já levou o assunto a secretários de turismo da região. — Nossa pousada não é naturista, mas não digo que nunca será. Infelizmente, o assunto ainda é tabu por aqui.
Uma das sete suítes da RiiA, a pousada de Maragogi que permitirá topless a partir de agosto — Foto: Divulgação
Ao contrário de países como Espanha, França e Itália, em que é bastante comum ver topless em praias e parques durante os meses mais quentes, no Brasil a prática ainda costuma ser tipificada pelas autoridades como ato obsceno, de acordo com o artigo 233 do Código Penal. O crime de ato obsceno tem pena estipulada entre três meses e um ano de prisão ou multa. No momento, há um Projeto de Lei na Câmara dos Deputados que pretende autorizar a exibição da parte de cima do corpo, de homens e mulheres, em todo o território nacional. O texto foi apresentado em fevereiro e desde março aguarda análise na Comissão dos Direitos da Mulher da câmara.