“Triturando” é o título infeliz de um programa que o SBT lançou no último dia 8. A atração veio substituir o “Fofocalizando”. Nela, a apresentadora Chris Flores e um grupo de “debatedores” “tritura” alguém famoso. A conversa conta ainda com a “participação” de um robô, o “Fofobyte”. Pensando bem, fui injusta: não é só o título que é infeliz. É o conjunto da obra.
Dias depois de o vespertino ir ao ar pela primeira vez, recebi uma mensagem de uma amiga, a jornalista Luciana Medeiros. Ela estava em choque porque seu pai, o grande Carlos José, era o alvo do “triturador”. O músico fez sucesso com canções como “Esmeralda”, “Guarânia da saudade” e “Lembrança” e prestou inúmeros bons serviços à cultura brasileira. Naquele momento, estava internado na UTI com Covid-19 (morreu dias depois). A família foi surpreendida com sua imagem na tela e um debate desrespeitoso (para dizer o mínimo) no palco. Assim tem sido diariamente. Na semana passada, foi a vez de Agostinho dos Santos. Cantor e compositor importante, ele participou da lendária apresentação da bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York, em 1962. Mostraram a foto dele no telão com o letreiro “aumente o som e curta ‘Rádio Triturando’”. Tocou “Se todos fossem iguais a você” na voz dele. Lindo, mas ninguém ali entendeu. Lívia Andrade, por exemplo, disse que “não consegui prestar atenção à música porque olhei a cara do cidadão e só lembrei do Didi (de Os Trapalhões)”. Esse foi mais ou menos o nível do que veio a seguir.