TRISTEZA
Euclides da Cunha
Ai! quanta vez – pendida a fronte fria
– Coberta cedo do cismar p'los rastros –
Deixo minh'alma, na asa da poesia,
Erguer-se ardente em divinal magia
À luminosa solidão dos astros!…
Infeliz mártir de fatais amores
Se ergue – sublime – em colossal anseio,
Do alto infinito aos siderais fulgores
E vai chorar de terra atroz as dores
Lá das estrelas no rosado seio!
É nessa hora, companheiro, bela,
Que ela a tremer – no seio da soedade
– Fugindo à noite que a meu seio gela –
Bebe uma estrofe ardente em cada estrela,
Soluça em cada estrela uma saudade…
É nessa hora, a deslizar, cansado,
Preso nas sombras de um presente escuro
E sem sequer um riso em lábio amado _
Que eu choro – triste – os risos do passado,
Que eu adivinho os prantos do futuro!…