– “Geraldo, há algum tempo precisava conversar com você, pode me dar alguns minutos? Vamos pegar uma mesa?” Disse Luzia abraçando o irmão, ao encontrá-lo no shopping.
Feliz em encontrar a irmã querida no início daquela tarde de sexta-feira, Geraldo sentou-se e pediu dois chopes. Luzia olhou-o, sorriu-lhe e foi direto ao assunto.
– “Geraldo querido, só nós dois é que sabemos o quanto nos amamos, sou louca pelo meu irmão caçula desde que nasceu. Nossas afinidades sempre foram visíveis, nos entendemos com apenas um olhar. Por isso quero essa conversa. Você casou-se, separou-se, agora está solteiro novamente aos 40 anos, nunca dei palpite em sua vida amorosa, boêmia e escandalosa. Desculpe eu estar me intrometendo em seu novo namoro, você insinuou em breve um casamento. Sua namorada, Maria da Graças, parece equilibrada e sensata, embora seja bem mais nova que você. Acontece que, informaram-me um pequeno detalhe de sua vida pessoal e eu tenho obrigação de lhe passar, não quero que seja enganado. Fonte fiel confidenciou-me: ela é sapatona, ou melhor, bissexual, tem um caso com aquela morena, andam muito juntas, se diz prima. Desculpe eu tocar em sua vida particular. Sabendo do fato, seria uma imperdoável traição por omissão não contar-lhe esse pequeno detalhe.”
Geraldo respirou fundo, tomou dois goles de chope, pensou, pensou, respondeu à irmã ainda no impacto emocional da notícia.
-“Obrigado Luzia, você agiu como uma irmã querida, não poderia ser de outra forma, francamente, nunca desconfiei de Graça. Eu até gosto de sua prima Fátima, nada me fez perceber essa opção sexual de minha namorada, ela gosta de homem, tenho certeza, na cama é um arraso. Vou pensar no que fazer, é caso grave, não sei se dá para conviver sabendo que sua mulher gosta de outra mulher. Obrigado minha irmã.” Geraldo pediu mais chope, passaram o resto tarde conversando.
Eram nove horas da noite quando Geraldo encontrou-se com Maria das Graças na Barraca Pedra Virada, orla da Ponta Verde, acompanhada de Fátima, tomaram chope, uísque, tira-gosto, jantaram quase meia noite. Duas horas da manhã deixaram Fátima em casa, dormiram no apartamento, amaram-se. Geraldo nunca mais havia passado uma noite de amor com tanta intensidade. Pela manhã do sábado resolveram dar um mergulho na praia do Francês. Graça perguntou se podia convidar Fátima.
– “Tudo bem” – disse Geraldo – “porém, quero uma conversa com você”. Foi claro e taxativo com a namorada.
– “Graça, temos mais de dois anos juntos, somos adultos, lhe amo, tenho de ser sincero. Sua amizade com Fátima vem atiçando a maldade alheia, vieram me fuxicar de um relacionamento íntimo entre vocês duas, é o boato corrente nas rodas da cidade”.
Graça ouviu olhando nos olhos do namorado, depois baixou a cabeça, respirou fundo, encarou-o novamente, abriu seu coração com franqueza.
– “Geraldo querido, é verdade! Eu tenho essa opção sexual a mais, sou bissexual e Fátima não é minha prima. Estava esperando um momento apropriado para conversar sobre essa situação. Conversei muito com Fátima, temos uma proposta, você pode se chocar, francamente não imagino sua reação. Minha única certeza é que lhe amo, quero você, quero ficar com você, não importa se casados ou juntados. Minha proposta é meio louca, entretanto, foi bem pensada, amadurecida: Quero continuar nosso relacionamento como está, cada qual em seu lugar. Peço-lhe apenas que você conheça melhor a Fátima, sinta como é uma pessoa boa, entre em suas intimidades, depois me diga se aceita a situação entre nós três, sem compromissos”.
Geraldo teve um impacto com aquela inusitada proposta, pediu um tempo para pensar. Conversou e passou algumas noites com Fátima. Não precisou muito tempo para definir-se. Estão em período de adaptação, tiraram férias juntos passeando na bela cidade de Buenos Aires, o mais caro foram as três passagens de avião.