O grande poeta cantador paraibano Nonato Costa
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Nonato Costa glosando o mote:
Sepultura é a única residência
Que não cobra aluguel do morador.
Pra quem vai prestar contas a Jesus
Tem pra sempre gratuita uma morada
E como símbolo na porta de entrada
Tem o nome do dono numa cruz
Não tem conta de água nem de luz
Não precisa avalista ou corretor
E Deus perdoa seu saldo devedor
Quando o banco da vida abre falência
Sepultura é a única residência
Que não cobra aluguel do morador.
Não existe desvio no caminho
Quando o cerco da morte está armado
Pelos súditos o rei vive cercado
Mas no dia que morre vai sozinho
Dos dois lados do túmulo tem vizinho
Mas não há um diálogo a se propor
E a caveira jamais vai recompor
A beleza que tinha a aparência
Sepultura é a única residência
Que não cobra aluguel do morador.
O local é salgado pelo pranto
Dos que perdem seus entes mais queridos
Os irmãos, as esposas, os maridos
E os amigos que vão praquele canto
Condomínio fechado, campo santo
É pra lá que vai todo pecador
E ao entrar a balança do Senhor
Tira um peso da nossa consciência
Sepultura é a única residência
Que não cobra aluguel do morador.
Empresário, princesa, vagabundo
Evangélico e ateu, homem ou mulher
Apesar de ser grátis ninguém quer
Nesta casa morar nenhum segundo
O portal que nos leva a outro mundo
Não exige função superior
E nem precisa RG que o emissor
Quando chama já sabe a referência
Sepultura é a única residência
Que não cobra aluguel do morador.
Com chibanca ou enxada o homem faz
Esta casa sem planta e sem dinâmica
Onde o piso é sem pedra de cerâmica
E o seu teto sem lustres de cristais
Sem textura as paredes laterais
Sem contato com o mundo exterior
E uma hora qualquer seu construtor
Vai pra lá encerrar sua existência
Sepultura é a única residência
Que não cobra aluguel do morador.
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Dedé Monteiro glosando o mote:
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no sertão.
O latido amistoso de um “jupi”,
Vira-lata raçudo sem ter raça,
Uma banda de pífanos na praça,
O penoso cartar da juriti,
Um boaito saindo do jequi
E um vaqueiro a pegá-lo pela mão,
O estrondo redondo do trovão
Avisando que em breve vai chover,
São os sons que ninguém pode esquecer
Se já foi residente no sertão.
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Zé Silva glosando o mote
Mocidade é um vento passageiro
Beija a face da gente e vai embora.
Como é bom ser menino, ser criança,
Ter um mundo de sonhos, de ilusões,
Caminhar num caminho de emoções,
Aquecido no sol da esperança.
No entanto, esse tempo de bonança,
Como tudo que é bom, pouco demora.
Como a marcha dos anos me apavora
E a tudo transforma tão ligeiro!
Mocidade é um vento passageiro
Beija a face da gente e vai embora.
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Um cordel da autoria de Arievaldo Viana e Gonzaga Vieira
UM DIA DE ELEIÇÃO NO PAÍS DA BICHARADA
O comendador Cachorro
Era um amigo dileto
Da velha Rita Mingonga
De quem sou tataraneto
Quando os bichos escreviam
Os dois se correspondiam
Com ternura e com afeto
Depois que a velha morreu
Ficou a correspondência
Com sua neta Raimunda
Que deixou pra tia Vicência
Titia deixou pra mim
E foi justamente assim
Que aprendi cantar ciência
Morava o comendador
Na Vila da Cachorrada
Município da Rabugem
Distrito Tábua Lascada
Na corte do Rei Leão
Era um grande figurão
Porém não fazia nada
O elefante e o urso
Eram grandes generais
Tramaram uma revolta
No reino dos animais
E depois em praça pública
Proclamaram a República
Tornando-se os maiorais
Deportaram o velho rei
Para uma selva africana
Leão terminou seus dias
Já velho, numa savana
Levou somente o macaco
Viviam de vender tabaco
Cachaça, ovo e banana
O general elefante
Implantou a ditadura
Mandou prender o cachorro
Numa sala muito escura
De lá cachorro escreveu
Tudo que aconteceu
Falou até de tortura
Nesse tempo apareceu
Um tucano oportunista
Galego, do olho azul
Se dizendo progressista
Aliou-se a um pavão
Que enganava a nação
Com papo socialista
No tempo da ditadura
Do general elefante
O pavão foi deportado
Por ser um bicho pedante
Doutor em sociologia
Depois, com a democracia
Ele voltou triunfante
Candidatou-se o tucano
Tornou-se governador
O pavão por sua vez
Elegeu-se senador
Com o poder foi transformado
Renegou todo o passado
Tornando-se um traidor
Chegando a presidência
Tendo como vice o galo
Tornou-se um lesa-pátria
Este pavão de quem falo
Cachorro disse bem franco:
“ – Da águia do ninho branco
Ele tornou-se um vassalo…”
Aliou-se com o urso
Um grande da ditadura
Amigo dos generais
Político da linha dura
Fez grande carnificina
Privatizou toda usina
De fabricar rapadura
Tornou-se um vendilhão
No reino dos animais
Entregou seu patrimônio
Pois vendeu as estatais
Vendeu, subornou, mentiu
Coisa que nunca se viu
No tempo dos generais
Nesse tempo existia
Um sapo muito falante
Porta voz dos proletários
Desde o tempo do elefante
Candidatou-se também
Como não tinha um vintém
Jamais saiu triunfante
Porque política é assim
Só dá pra quem tem dinheiro
Sapo tinha um aliado
Um tal de dr. carneiro
Sujeito honrado e bondoso
Mas por ser muito teimoso
Tinha fama de encrenqueiro
Por ser um trabalhador
O sapo era rejeitado
Além do mais o pavão
Era um sujeito escovado
Apoiado por tucano
( Que era rico e tirano )
Trazia o povo enganado
Toda imprensa do reino
Falava bem do pavão
A águia financiava
As despesas da eleição
Pavão muito vaidoso
Viajava orgulhoso
Com o seu alto escalão
O sapo com tudo isso
Perdia a calma e o sossego
Dizendo que o pavão
Aumentara o desemprego
O pavão dizia ao povo:
“ – Este fato não é novo,
Não dêem ouvido a este nêgo!”
Cachorro na sua carta
Culpava sempre o povão
Que não sabia votar
No dia da eleição
Lembro que ele dizia
Que o sapo sempre perdia
Quem ganhava era o pavão
Cachorro denunciava
Tudo isso com ardor
Porém dizia que os bichos
À pátria não tinham amor
Um burro desempregado
Apesar de ser coitado
Do pavão era eleitor
Não sei como terminou
A história aqui narrada
Pois a carta do cachorro
Já está velha e rasgada
Mas garanto que o leitor
Se for observador
Vê que não está errada
Porque esta velha história
Do tempo da bicharia
Que eu encontrei nesta carta
Que recebi da titia
Parece bem atual
Garanto que este mal
Inda acontece hoje em dia
Por isso, caros leitores
Façam uma reflexão
Que essa carta do cachorro
Sirva agora de lição
Pense no que foi narrado
Para não votar errado
Nessa próxima eleição
Não se deixem iludir
Por uma falsa aparência
Pois existe muito lobo
Que só demonstra inocência
Porém é devorador
Perverso, mal, traidor
Discípulo da violência
Sou amigo da verdade
Por ela mato e até morro
Confio em Nossa Senhora
A do Perpétuo Socorro
Porém se você duvida
Não arrisque a sua vida
Com história de cachorro.