Depois de 2 anos de pandemia, pirenopolinos poderão, finalmente, celebrar a festa do Divino Espírito Santo, considerada a maior manifestação popular e cultural de Pirenópolis (GO) — cidade a 150km do Distrito Federal. Tombada como patrimônio cultural brasileiro, a mais esperada celebração do ano mescla variadas demonstrações religiosas em uma profusão de folclores tão rica que contagia, tanto o leigo como o erudito, o profano e o religioso, servindo a todos em todas as suas formas e línguas.
Após dois anos sem a celebração, a expectativa é grande e a comunidade segue participando ativamente. "As pessoas têm um carinho muito grande. Já havíamos percebido um anseio antes, agora que já estão acontecendo as primeiras programações, é possível ver no rosto das pessoas o quanto estão contentes com essa retomada", completa o secretário.
História
Ainda na antiguidade, israelitas cultuavam o Espírito Santo nas festividades de Pentecostes. Na baixa idade média, essa devoção foi levada para a Europa e na Alemanha tomou a forma de uma festa. Em Portugal, a folia foi instituída pela Rainha Isabel, no século XIII. Durante a celebração, era coroado um rei menino que distribuía alimentos e soltava presos políticos, como uma espécie de profecia significando que, quando o Espírito Santo cair sobre todos, haverá um monarca bom e puro como um menino e a terra estará repleta de fartura e perdão.
No Brasil, a celebração foi trazida pelos portugueses logo no começo da colonização e foi em Pirenópolis o primeiro registro, em 1819, da Festa do Divino, como uma iniciativa do Coronel Joaquim da Costa Teixeira, o primeiro consagrado como Imperador do Divino. A ele cabe a responsabilidade de promover e cuidar para que tudo se realize com ordem, incentivando, angariando fundos e mobilizando a população nos afazeres do evento.
Alguns anos depois, em 1826, o festeiro, como também é chamado o organizador, Padre Manuel Amâncio da Luz, introduziu as Cavalhadas e mandou confeccionar uma coroa de pura prata, a Coroa do Divino, oferecendo-a à Igreja Matriz. Amâncio distribuiu, de casa em casa, pãezinhos e alfenins, docinhos feitos de açúcar puro chamados de Verônicas, à população. A prática virou tradição e até hoje é reproduzida.
15 anos de espera
Após cada festa, no Domingo do Divino, um novo Imperador é eleito por meio de um sorteio, os candidatos geralmente pertencem à Irmandade do Santíssimo Sacramento. Neste ano, o escolhido foi o promotor de justiça Heráclito D'Abadia Camargo, 53, que esperou 12 anos até ser sorteado. Mas, por causa da pandemia, ele teve que esperar mais três.
"É um grande privilégio e, depois de tantos anos, me sinto realizado. Essa festa somos nós, e nós somos essa festa. A figura a do imperador centraliza e organiza tudo. Eu estou na expectativa há três anos, desde que fui sorteado, e nos anos que não pudemos realizar a festa por causa da pandemia", disse o Festeiro de 2022.
Cavalhada
Encerrando a comemoração religiosa, um grupo, a cavalo e com armaduras, encena, em um grande palco medieval a céu aberto, a guerra do século VIII, travada entre os mouros e os cristãos. O espetáculo é uma reprodução do reinado de Carlos Magno e seu exército, que tinham a missão de catequizar todos os que não eram fiéis à igreja católica.
O espetáculo conta com lanças afiadas, garruchas de pólvora, texto teatral e músicas instrumentais. Num grande campo de batalha: de um lado, 12 cavaleiros cristãos vestidos de azul, e do outro, 12 cavaleiros mouros, vestidos de vermelho. O teatro das Cavalhadas dura três dias. No fim, os mouros perdem a guerra, são catequizados e batizados pelos cristãos.
A programação completa pode ser conferida na página do evento no Instagram: @festadodivino2022