Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense terça, 04 de abril de 2023

TRABALHO ESCRAVO: DISTRITO FEDERAL ALERTA PARA O COMBATE

 

Distrito Federal acende alerta para o combate ao trabalho escravo

Entre 2019 e 2022, 193 pessoas viveram em condições análogas à escravidão no Distrito Federal. O Correio analisou dados, conversou com especialistas e conta a história de uma mulher que viveu nessas condições por 18 anos

IM
Isac Mascarenhas*
MF
Mila Ferreira
postado em 04/04/2023 06:00 / atualizado em 04/04/2023 10:22
 
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Submissão, restrição de liberdade, condições degradantes. Mais um século se passou desde a abolição, mas as faces da escravatura persistem. As raízes da servidão atravessaram os grotões do Brasil e chegaram às grandes cidades, como a capital federal. De acordo com dados da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), apenas de 2019 a 2022, 193 pessoas viveram em condições de trabalho análogas à escravidão no Distrito Federal. Somente em 2022, 18 trabalhadores foram encontrados nessas condições no DF. O número representa menos de 1% das 2.575 vítimas em todo Brasil, mas preocupa. O Distrito Federal aparece em 3º no ranking de pessoas libertadas, perdendo apenas para São Paulo (714) e Rio de Janeiro (328).

Trabalhadores amontoados

No DF, uma fazenda da zona rural de Sobradinho foi cenário para a libertação de 14 cearenses em dezembro de 2022. No local, a fiscalização trabalhista encontrou alojamentos com fios elétricos expostos, onde os trabalhadores ficavam amontoados. Os banheiros não tinham limpeza e faltava até água para beber e cozinhar.

Em pleno feriado de Natal, 10 trabalhadores foram descobertos escravizados numa lavoura às margens da DF-180, no Gama. No dia em que foram encontrados pela Polícia Militar, eles tinham comido apenas arroz e farinha seca. As vítimas vieram do Piauí para trabalhar, mas não recebiam pagamento e nem podiam sair do rancho. Também faltava água potável, sabonete e comida. Até o colchão que dormiam eles deviam comprar.

Essas pessoas fazem parte do triste grupo de trabalhadores que vieram de outros estados para realizar seus sonhos em Brasília e acabaram explorados. Seja em busca de uma oportunidade de emprego, de melhores condições de vida ou fugindo da fome, essa sina se repetiu com 96, das 193 pessoas resgatadas na capital.

 

Novo perfil

O perfil das pessoas escravizadas pouco mudou desde as alforrias no século 19. A maior parte são homens pretos, jovens e com pouca escolaridade. Entre as pessoas resgatadas no DF, 90% delas têm pele preta ou parda. O restante eram pessoas brancas (9%) e amarelas (1%), que é como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identifica descendentes de asiáticos.

As informações da Secretaria de Inspeção do Trabalho mostram que mais da metade das vítimas não conseguiram terminar o ensino fundamental: uma a cada três não passaram do quinto ano. Algumas, nem sequer tinham entrado na escola, eram analfabetas. Com relação à faixa etária, quase metade dos homens, que são maioria entre as vítimas, têm menos de 30 anos. Entre eles, adolescentes e idosos.

Entre as mulheres, o que chama atenção é a idade avançada. Grande parte na faixa entre 34 e 44 anos de idade. Esse perfil é o reflexo da população que é mais miserável e que não tem oportunidades. A avaliação é do advogado trabalhista Luis Camargo. O especialista diz que existe uma cultura escravocrata no empresariado brasiliense que não admite pobres em posições de poder.  "Os lucros impulsionam esse tipo de trabalho. Também há uma impunidade do escravocrata moderno. Nenhum foi preso, nenhum", ressalta.

Relato real

Dona Zilda (nome fictício), hoje com 74 anos, viveu, por 18 anos, em condições de trabalho análogas à escravidão. Com a promessa de uma vida melhor, foi tirada da casa dos pais aos 11 anos, onde vivia com mais nove irmãos. Foi "adotada" por uma família com melhores condições de vida, acreditando que teria um destino diferente da família biológica, que vivia na roça no interior de Minas Gerais. No entanto, a realidade tomou rumos diferentes. Desde cedo, a mulher que a adotou, a quem chamava de madrinha, obrigava Zilda a fazer todos os serviços domésticos da casa e não a deixava estudar. Apesar de terem se mudado para uma cidade maior, as condições de vida proporcionadas a ela não correspondiam ao que Zilda sonhou para o próprio futuro.

Ela só conseguiu se matricular na escola porque uma vizinha ofereceu ajuda e efetuou a inscrição de Zilda. No entanto, a família com quem morava fazia de tudo para impedi-la de estudar. "Quando chegava a hora de eu ir para a escola, ela enchia a bacia de roupa suja e me mandava lavar. Eu lavava correndo e ia para a escola. Conversava com a professora e explicava minha situação, para justificar os atrasos. Quando tinha prova, a professora separava a minha e ficava comigo até eu terminar. Reprovei algumas vezes e só consegui estudar até a quinta série", relata.

Mas ela não abaixou a cabeça. Apesar de trabalhar o dia inteiro limpando, cozinhando e lavando roupa, ela conseguiu fazer o curso de manicure e passou a sair todo dia batendo de porta em porta oferecendo os serviços. "Quando eu chegava tarde, minha 'madrinha' ficava brava. Um dia, chegou a me bater", afirma.

Foram anos de agruras, até Zilda conseguir um emprego em um salão de beleza e ir embora de casa apenas com a roupa do corpo e os documentos. "Minha 'madrinha' veio atrás de mim pedindo para voltar, mas eu não voltei nunca mais. Consegui emprego e batalhei. Há 32 anos, abri meu próprio salão de beleza, que tenho até hoje", finaliza ela.

 


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