Não um martelo de ferro, dos que servem para enfiar pregos na madeira, mas um daqueles martelos de borracha, grandes, que os caminhoneiros usam para verificar se os pneus do veículo que dirigem estão com a pressão adequada.
Tum, tum, tum… um golpe, dois, três… parei de contar.
Permaneci de olhos fechados, tentando imaginar que aquelas marteladas eram parte de um sonho. Ou um pesadelo.
A cada golpe, o ruído surdo, abafado, de objeto contundente se chocando contra uma superfície sólida, porém oca. Lembrei-me das batidas dadas em um tambor, em embarcações a remo, para manter os remadores no mesmo ritmo.
Veio-me à mente a cena da galé no filme Ben-Hur.
Até que, repentinamente, as batidas cessaram. Silêncio. Um silêncio que não trouxe paz alguma, por causa da expectativa de que os golpes de martelo recomeçassem a qualquer momento.
Foi então que ligaram uma furadeira. Ao invés das batidas, agora eu ouvia o som agudo do motor que girava a ponta de aço.
De vez em quando a ponta giratória parecia ser pressionada contra alguma superfície dura, porque o som ficava mais grave e cheio de vibrações. Parava um pouco e começava tudo de novo.
Aquilo foi se tornando insuportável. Já não pude mais me manter calado, nem de olhos fechados.
– Puta que pariu! – gritei, ao mesmo tempo em que me sentava na cama. – Esses escrotos não sabem que é proibido fazer reforma dia de domingo?!
Minha mulher, que havia acordado há mais tempo, veio da sala correndo:
– Que foi isso, amor?
– Esses putos! Esses escrotos do apartamento de cima! Dando porrada na parede com uma marreta e ligando a porra de uma furadeira em pleno domingo! Me acordaram!
– Mas, amor, hoje é segunda-feira. E já são nove da manhã. Não lhe chamei porque ontem você me disse que hoje só ia trabalhar à tarde. Lembra?
Lembrei. Tomei um gole da água que restava em um copo na cabeceira da cama. Fiquei mais calmo.
Mas continuo achando meus vizinhos uns escrotos.