Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão sexta, 27 de dezembro de 2019

TORTILLA: CONFIE NO SEU TACO E PREPARE RELEITURAS DESSE PRATO MEXICANO

 

Confie no seu taco e prepare releituras nada convencionais desse prato mexicano

A tortilla não precisa ser só de milho e o recheio pode levar, inclusive, palma, uma planta cactácea; aprenda como

 

27 de dezembro de 2019 | 06:00por Neide Rigo, O Estado de S.Paulo

Em novembro ocorreu a última edição de 2019 do projeto Taquera Por Um Dia, promovido pela Taqueria La Sabrosa, na Rua Augusta, em São Paulo, e as convidadas da vez fomos nós, Mara Salles, chef do restaurante Tordesilhas, Ana Soares, chef da rotisseria Mesa 3, e eu, aprendiz de cozinheira atrevida.

 Palma (cacto), farinha de raspa de mandioca e manga verde, usadas no preparo do taco azul.

Palma (cacto), farinha de raspa de mandioca e manga verde, usadas no preparo do taco azul. Foto: Neide Rigo/Estadão

 Os sócios Hugo Delgado e Carlos Tavares conheciam o histórico do trio desde o Paladar Cozinha do Brasil, onde demos várias aulas juntas – sobre amargos, invólucros, galinha de cabo a rabofarinhas de outros os sacos, doces mas nem tanto e nossas misturas. Sabiam que não nos contentaríamos apenas em oferecer um novo conteúdo para o meio das tortillas de milho. Quereríamos mexer em tudo, inclusive na massa. E assim foi.

 Entre tacos e pitacos, chegamos aos conjuntos que falavam um pouco de nós, do nosso trabalho, dos nossos desejos e das nossas trajetórias, afinal de contas, tudo cabe dentro de um disco de tortilla. Ana fez o taco de pancita y fideos – tortillas de milho recheadas de dobradinha completa e cabelo de anjo crocante, acompanhados de coalhada, vinagrete de salsão e torresmo.

 O taco da Mara era quase um acarajé em verso e prosa, por isso ganhou o apelido de tacarajé – uma tortilla de farinha de feijão fradinho coberta com caruru, manjubinha frita e complementos como pasta de pimenta e molho lambão, o vinagrete baiano.

 Já eu sintetizei no meu os interesses do momento – espécies, estágios e usos não convencionais, forrageio, mandioca e pigmento azul de jenipapo. As tortillas do meu taco foram feitas com farinha de raspa de mandioca, que já mereceu uma coluna Nhac!, e pigmento azul do jenipapo verde, outra coluna.

 

Salsa picante de manga verde.

Salsa picante de manga verde. Foto: Neide Rigo/Estadão

De recheio, os nopalitos ou palma, da coluna sobre jerumbeba, que ornamentavam o jardim de uma casa vizinha, e falafel de feijão preto fermentado, ladeados com creme de abacate e coentro, molho picante de manga verde (colhidas nas praças do bairro), grolado de mandioca com puba (eu mesma fiz) e folhinhas de epazote, epa, mentruz do quintal. E, a quem possa interessar, era vegano, sem glúten, sem açúcar e tinha pouca gordura.

 É mais simples do que parece, embora não muito comum, por isso, atendendo a pedidos, resolvi dedicar esta coluna à explicação do processo todo. Espero que ao final você tenha recebido a motivação necessária para criar também o seu taco.

 Vale dizer, para quem não sabe, que no México tortillas são discos chatos e flexíveis de milho com os quais se fazem tacos. Tortilla seria o similar ao nosso pão, e o taco, o sanduíche. As tortillas de milho são as mais populares, mas no norte também são feitas de trigo. Como sabemos, o milho carece de coesão e flexibilidade, mas os grãos usados nas tortillas passam antes por processo de nixtamalização, que é o cozimento em água alcalina – com cal, a mesma usada por aqui nos doces de frutas cristalizadas, embora o processo seja outro.

 Com isso, a massa resultante do milho triturado torna-se mais gelatinosa, elástica e flexível, perfeita para os discos que são cozidos rapidamente na chapa dos dois lados. A técnica é trabalhosa e poucos mexicanos fora da zona rural fazem isso em casa, pois há no México moinhos elétricos espalhados pelas cidades para onde se pode levar o milho nixtamalizado em casa para triturar. E também há farinhas instantâneas e pacotes com as tortillas prontas para esquentar em casa.

 Taco azul com nopalitos, falafel de feijão preto e molho picante de manga verde.

Taco azul com nopalitos, falafel de feijão preto e molho picante de manga verde. Foto: Lucas Terribili

Para um clássico taco mexicano, é importante que se tenha pelo menos três elementos: a tortilla, o conteúdo e uma salsa, como se diz de um molho geralmente apimentado e denso. E, como regra de comportamento, claro, sempre se come com as mãos. 

 Como mesmo no México o atrevimento renovado impulsiona a criação de novos sabores e cores para as tortillas e os tacos o tempo todo, não me acanhei em usar a nossa mandioca. Achei perfeita a farinha de raspa, a farinha dos Guarani – nada mais que lascas de mandioca desidratadas e trituradas, também encontrada como cassava flour no mercado nacional e internacional de produtos sem glúten. A água quente ajuda a massa a ficar ainda mais modelável.

Para o azul, uma homenagem às tortillas mexicanas de milho azul, substituí parte da água por leite azul de jenipapo – a receita está na coluna sobre pigmentos. Em vez de tortillas azuis, poderiam ser verdes, feitas com chaya ou nopal; rosa, feita com pitaia ou caldo de beterraba; vermelha, com pimenta; amarela, com cúrcuma etc.

 Confira a receita completa do taco azul com nopalitos, falafel de feijão preto e molho picante de manga verde.  


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