Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Exército Brasileiro quinta, 27 de abril de 2017

TOQUES DE CORNETA

TOQUES DE CORNETA

Raimundo Floriano

 

 Corneteiro militar: Alvorada!

 

            Em meu período de serviço inicial no Exército, eu ia dar baixa no dia 15 de novembro de 1955. Mas, no dia 11, foi decretado o Estado de Sítio. Todas as Forças Armadas ficaram mobilizadas, de prontidão, e as baixas foram suspensas. Isso perdurou até 15 de fevereiro de 1956.

 

            No decorrer desse intervalo, nada tínhamos para fazer, pois toda a instrução prevista para nossa turma já fora transmitida. Mesmo assim, devido à situação política do País, toda a tropa ficou aquartelada.

 

            Havia um saco de estopa dependurado numa figueira, e a maioria dos meus colegas de farda, para se distrair, para matar o tempo, passava o dia inteirinho coçando o mencionado equipamento. Eu, que nunca me adaptei àquela atividade coçativa, aproveitei-me de certa circunstância que o acaso me oferecia, visando ao preenchimento de tantas horas ociosas. Vejam como foi!

 

            Nova leva de conscritos já incorporara e, diariamente, eram dadas aulas aos aprendizes de corneteiro. Interessei-me pelo assunto. Ficava ali por perto. Embora não pegasse no instrumento, absorvia tudo o que era transmitido, as vozes de comando, as combinações de toques, etc., de tal modo que, ao deixar o serviço ativo, podia lecionar em qualquer quartel verde-oliva. Por isso, tenho sempre comigo o manual, para recordar, reviver, tirar dúvidas, curtir.

 

            Não sendo egoísta, vou passar algumas dicas para vocês, com as notas graves em caixa alta.

 

            O primeiro toque aprendido pelos recrutas é o do rancho, da boia, da comida, como queiram. É assim:

 

            Mi-sol-mi-do-sol-mi-dó-SOL - dó-dó-mi-SOL-dó-dó-mi-dó.

            Aos novatos é ensinada esta letra, tradicional em toda a caserna:

            Catita, cadê teu chapéu?Tá na cabeça do coronel!

            Já o praça-velha canta diferente, em tom de galhofa:

            Recruta, cadê teu cabaço?Soldado antigo passou no aço!

            Outro toque que tem letra, para melhor ser memorizado, é o de meia volta volver:

            Sol-sol-mi-mi-dó-dó-SOL  - mi-sol.

            O recruta canta-o desta maneira:

            Eu preciso me virar - daqui.

            Novamente, o praça-velha, com a sua experiência:

            Nunca vi mulher sem homem - parir.

 

            Na ordem-unida, qualquer voz de comando se divide em dois toques: o designativo da ordem e o da execução, representado pela nota sol aguda, seca, rápida.

 

            Para ilustrar, o toque de apresentar arma:

 

            Dó-mi-sol-sol-sol-sol-sol-sol. Ao ouvi-lo, a tropa o assimila e aguarda. Vem, a seguir, o comando: sol! Então, com energia, é executado o movimento.

 

            A maioria dos toques se forma por combinações. Vejamos primeiro os números: I - sol; II - sol-sol; III - sol-sol-sol; IV -SOL - dó-mi; V - dó-mi; IX - SOL-sol-mi; X - sol-mi; L - sol-mi-dó. Todos os demais números são obtidos como se procede com os algarismos romanos.

 

            Companhia, por exemplo, tem este toque: dó-mi-sol-mi-dó-dó-dó-dó-SOL-dó. Daí, para designar a 6ª Companhia: dó-mi-sol-mi-dó-dó-dó-dó-SOL-dó - dó-mi+sol (V+I).

            Compreenderam?

 

            Isso no que se refere à corneta. No clarim, sou um perfeito analfabeto, pois seus sons não se encontram arquivados em minha memória.

 

             Eu era de Infantaria. Clarim é coisa da Cavalaria, e o cavalo, meus camaradas, é o nobre amigo sobre o dorso do qual essa Arma Ligeira, Estrela Guia, transpõe os montes e caudais profundos pelo caminho da luta e da vitória. Para ter-se uma ideia do seu quilate, a Bolívia – sabe-se agora, conforme declaração do Presidente boliviano Evo Morales – trocou o Estado do Acre por um cavalo.

 

            Portanto, animal bem superior ao burro, este sim, azêmola sem traquejo e tirocínio que, no dizer do saudoso forrozeiro Elino Julião, nunca passa de filho duma égua, não vale um jumento!

 

            Isso posto, tenho a satisfação de apresentar-lhes este despretensioso trabalho, levado a efeito no intuito de atender a antigo anseio das principais comunidades orkutianas ligadas à Música Militar: Só Dobrados, Hinos de Países, Música Militar e Dobrados, Carnaval e Forró, que administro.

 

            São 290 toques de corneta comuns às três Forças Armadas: Exército, Marinha e Aeronáutica. Desses, 72 já existiam navegando pela Internet. Por terem excelente qualidade de som e locução, presumo que foram gravados em estúdio.

 

            Os 218 restantes são fruto de meu trabalho de campo, obtidos nos mais diversos e inapropriados ambientes: a céu aberto, embaixo de mangueiras, em galpões, em banheiros e, por último, na pequena cozinha da CCS do BGP - Batalhão da Guarda Presidencial.

 

            Munido de um minigravador, enfrentei todas as dificuldades tecnológicas imagináveis. E, para completar, ousei colocar minha bela voz na anunciação de cada faixa, pelo que lhes peço desculpas.

 

            Quero aqui ressaltar e agradecer a cooperação que recebi do 3º Sargento Wilson Gomes, Corneteiro-Chefe daquele Batalhão, e dos Cabos Flávio Almeida da Silva e Aldemir Farias dos Santos, de sua equipe, sem a qual seria impossível a realização deste empreendimento. Souberam, desde o primeiro contato, valorizar o intento deste saudoso reservista que, 42 anos após seu licenciamento do querido BPEB - Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, do qual é um dos fundadores, em virtude de aprovação em concurso público para a Câmara dos Deputados, ainda vibra e se emociona com a simplicidade e a rotina militar, que nem um recruta deslumbrado. Com entusiasmo, eles abraçaram a causa, objetivando o almejado sucesso final.

 

            Os veteranos talvez estranhem a melodia de alguns toques, que sofreram modificações, assim como tudo na vida. Quando sentei praça no 25º BC, fui lotado na CPP - Companhia de Petrechos Pesados. Ao cursar a EsSA - Escola de Sargentos das Armas, outra CPP. Findo o curso, e designado para o 12º Regimento de Infantaria, repete-se a sina: Furriel da CPP-1. Por isso, o toque de Petrechos Pesados está gravado a ferro e fogo em minha mente: SOL-dó-SOL-dó-mi-SOL-dó-SOL-dó-mi-SOL-dó. Agora, é assim: SOL-dó-mi-dó-mi-dó-sol-SOL-SOL-dó-mi-mi-dó-SOL-dó. O de Numeração 10, mi-dó, também sofreu modificação: sol-mi.

 

            O produto desta pesquisa – parece-me – já é um bom começo. Submeto-o à apreciação e crítica de todos, visando a que, num futuro não tão distante, o tenhamos aperfeiçoado e digno de figurar em todos os arquivos de compartilhamento internéticos dedicados aos assuntos.

 

             Esses 290 toques encontram-se à disposição na Comunidade Dobrados, Carnaval e Forró, no tópico Toques de Corneta.

 

            O sucesso de sua postagem no Orkut foi mais que o esperado! Só o Toque de Alvorada, 1ª Parte, até este momento, já mereceu 3.137 downloads!

 

Corneteiros do Batalhão da Guarda Presidencial - Acervo Laboratório Fotográfico do BGP

           

 


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