1 – Pai de jumentinho!
Fiquei (e ainda estou) fora do ar por uns dias. Mudei meu provedor de e-mails na Internet e estou esperando a regularização. Não vai demorar muito. Prometo.
E, quando me disponho a rabiscar alguma coisa, o mundo rico que vivi foi o mundo da infância. Da minha infância, vivida no interior, aporrinhando meus avós, espantando ou juntando cabras e bodes para o chiqueiro, e, quando apareceram os pêlos nos devidos lugares, “fazendo fios em jumentinhas”.
Foi quando, certo dia numa capoeira, estava “me aproveitando” de uma certa “diversão dos meninos”, quando escutei minha Avó:
– Tenha vergonha, cabra safado! Vá percurar outra coisa pra cumê!
Vivi o restante daquela idade sendo obrigado a escutar e suportar gozações dos primos, que afirmavam que, meu primeiro filho seria um jumentinho! Arre égua!
E eu acreditava!
2 – O cineasta
Sei que deveria pedir licença para o especialista Altamir para dar uma rápida passeada n o tema cinema. Eu gosto de cinema. Filme que considero bom, costumo ver mais de uma vez. Filmes que considero excelente, vejo apenas uma vez – para não estragar.
Mas, o assunto não é esse. Bifurquei errado e vou corrigir. Quero falar de filme e de cinema, mas de filme e de cinema feito por mim. Sim, fui cineasta e achei que teria futuro. Mas, quando menos esperava e já comemorava a bênção da Lei Rouanet para subvencionar de forma superfaturada as minhas fitas, minha Mãe, com uma “cabada de vassoura” na minha cabeça, me fez acordar do sonho.
A “máquina de projeção”
Juntei alguns mil réis que meu Pai carregava naquele bolsinho pequeno, na frente da calça, próximo da fivela do cinto e me dava. Juntei tanto que, no dia 23 de outubro (data do aniversário de vida dele), pude comprar uma caixa cheia e lacrada de charutos Suerdieck para dar-lhe de presente. Ele agradeceu muito e, toda noite, após o jantar acendia um charuto e fumava.
Minha Mãe dizia que ele “ficava fumando para matar muriçoca”! Por isso e por outra coisa, fiquei patrulhando os 50 dias que meu Pai fumava aquele charuto de cheiro até agradável. Mas, eu tinha um objetivo: pegar o caixote dos charutos, vazio. Era ali que eu montaria toda a minha engrenagem de cineasta.
No dia seguinte ao último charuto, peguei logo a caixa vazia e me apressei. Arranquei a tampa. Colocando a caixa na vertical, furei nela com a serra tico-tico, uma buraco, onde afixei uma lâmpada queimada, marca Phillips (lembro até hoje). Parte da “engenhoca” estava pronta.
Enquanto meu Pai fumava os 50 charutos, fui me preparando. Saía da escola e, em vez de voltar para casa, ia para o Cine Nazaré, onde fiz amizade. Pedi uns pedaços de fita e ganhei quase um rolo. De fita colorida, pasmem!
Lâmpada para auxiliar na projeção da fita
No dia seguinte, em casa, eu precisava testar a projeção. Faltava a iluminação. Sem que minha Mãe visse, subi no telhado da casa e, calculadamente, afastei uma telha, de forma que, passasse por ali a luz do sol.
– Menino, o que tu tá fazendo aí nesse telhado? Perguntou minha Mãe.
– Tô pegando uma arraia (papagaio ou pipa) bonitona que enganchou!
Depois de tudo aquilo, demorei tanto que uma lenta e grande nuvem me roubou o sol. Precisei disfarçar e consegui. Naquele dia o sol não voltaria mais.
No dia seguinte, enchi a lâmpada de água, afixei uns pedaços de fita, peguei um pedaço de espelho e, comecei a projetar o filme. Uma maravilha!
Não gostei foi do resultado final. O funcionário do Cine Nazaré, quando me entregou quase um rolo de fitas, provavelmente sem maldade, não percebeu que existia uns 20 metros de “The End”!
Filmes épicos do meu cinema
Mas os dias seguintes foram proveitosos e me sentia um dos melhores cineastas, ao lado de Jean Luc Godar, Orson Welles e o ainda desconhecido Glauber Rocha.