Enviado especial a São Petersburgo
Passada a euforia da vitória, o tombo de Tite na comemoração e o choro de alívio de Neymar, a comissão técnica da Seleção Brasileira precisa pensar friamente em suas principais peças do tabuleiro para o xeque-mate da rodada final do Grupo E da Copa do Mundo contra a Sérvia na quarta-feira, às 15h (de Brasília), em Moscou. Nessa sexta, o Brasil venceu a Costa Rica por 2 a 0, em jogo emocionante na Arena São Petersburgo, com uma jogada acertada porém arriscada do treinador, que manteve cinco atletas ofensivos durante mais da metade do segundo tempo – além de Marcelo apoiando pela esquerda. Deu certo, graças à eficiência de Philippe Coutinho, à estrela de Neymar e à capacidade de atletas como Douglas Costa e Firmino em desempenhar diferentes funções. Isso pode ser fundamental para o Brasil avançar rumo ao hexa.
Mas para vencer os sérvios sem sustos e garantir o primeiro lugar do grupo, o Brasil precisa voltar a mostrar equilíbrio e poder de decisão. Dois jogadores que vinham sendo pilares da equipe, Paulinho e Willian, voltaram a jogar abaixo da média obrigando o treinador a mexer já no intervalo. “(O meio-campo) é bom, com possibilidade de crescer. Precisava de um jogador mais infiltrado. Aí justifica a entrada de Firmino”, justificou o treinador, que sacou o volante pelo atacante. “É um meio-campo que está se ajustando e nós estamos buscando este equilíbrio”, completou o auxiliar Sylvinho.
Willian foi o último jogador a conquistar vaga no time titular com a lesão de Renato Augusto e por ter se entrosado rápido com Philippe Coutinho, Neymar e Gabriel Jesus. No empate com a Suíça, com o jogo concentrado na esquerda, não apareceu. Diante da Costa Rica, quando o Brasil tentava criar pela direita, o armador do Chelsea não correspondeu. Douglas Costa, seu substituto, deu outra cara para o time. Com ousadia e dribles, que são sua marca, criou oportunidade e se entendeu bem com Coutinho. Não é um plano A para o time titular, mas provou ser peça chave para desequilibrar retrancas.
Tite ressaltou a importância de ter peças capazes de desempenhar diferentes funções ofensivas, o que pode ser um trunfo para o Brasil no Mundial. Firmino e Gabriel Jesus haviam jogado menos de 10 minutos juntos mas, antes da partida, Tite já havia conversado com o jogador do Liverpool sobre a possibilidade de atuar junto com Jesus.
“A gente tem um tempo junto com os atletas e as características fazem com que você possa arriscar a execução de uma função. Estudamos bastante o Firmino na posição que ele tem, contra adversários com uma linha de cinco e uma de quatro. Conversamos, não treinamos, mas preparamos o atleta para essa função”, contou Tite. “Quando mostrei para ele no quadro ele abriu um sorriso: 'Professor, eu gosto de jogar ali, eu tenho essa condição'. A gente está descobrindo as características do atleta”.
“AULA DE FUTEBOL”
O Brasil atacou a Costa Rica por noventa minutos antes de conseguir os gols da vitória. No primeiro tempo, o time mostrou-se nervoso, mas a segunda etapa foi considerada por Tite como “uma aula”. O Brasil só não marcou antes porque Keylor Navas fez milagres e a bola de Jesus parou no travessão. O árbitro holandês Bjorn Kuipers marcou pênalti em Neymar, mas voltou atrás depois do auxílio do VAR.
Além disso, os costarriquenhos tentaram retardar o início do jogo, o que obrigou o árbitro a dar sete minutos de acréscimos. Foi do atraso dos costarriquenhos que saiu o castigo. Aos 46min, Marcelo cruzou, Firmino brigou pelo alto, Jesus deixou passar e a bola sobrou para Philippe Coutinho abrir o placar. Aos 51min, Douglas Costa avançou pela direita e cruzou para Neymar, sozinho, empurrar para as redes.
O treinador elogiou também a dupla de zaga formada por Thiago Silva e Miranda. Sylvinho ressaltou a importância de Fágner, escalado de última hora para a vaga do contundido Danilo. O zagueiro Marquinhos ficou no banco, de sobreaviso, caso o jogador do Corinthians sentisse algum desconforto, já que também vem de lesão. Alisson não precisou trabalhar já que nenhum chute da Costa Rica foi ao gol.
Com a chance de garantir a classificação e deslanchar de vez, Tite avisou que não vai poupar esforços. “Nós estamos acostumados a bom desempenho e procurar vencer. Tem um DNA da equipe se formando, ela busca o gol. Se eu trouxer uma característica diferente a gente vai sair do padrão. Claro que a gente tem consciência do que possa vir, mas a gente não vai jogar para isso (empate).”