Publicação: 28/10/2018 04:00
Sob o impacto do ataque, jovens fazem oração: agressor, que portava um fuzil AR-15 e pistolas, invadiu o templo em meio à celebração do sabah |
No 23º episódio de tiroteio nos Estados Unidos apenas neste mês, ao menos 11 pessoas morreram, incluindo quatro policiais, e seis ficaram feridas ontem em uma comunidade judaica em Pittsburgh, na Pensilvânia. Categorizado pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netahyahu, como “horrível ataque antissemita”, o caso é investigado como crime de ódio por autoridades federais norte-americanas.
O massacre ocorreu pouco depois das 10h, dentro da Sinagoga Árvore da Vida, quando judeus celebravam o sabah. Segundo testemunhas, um homem armado com um fuzil AR-15 e com pistolas entrou no templo e começou a disparar. Depois de trocar tiros com a polícia, ele se entregou e, ferido, foi levado sob custódia para o Hospital Mercy, da Universidade de Pittsburgh. A identidade das vítimas não foi revelada.
O presidente norte-americano, Donald Trump, disse, em uma convenção de ruralistas no estado de Indiana, que se trata de um “ato antissemita”. “O veneno repleto de ódio do antissemitismo precisa ser condenado e confrontado onde quer que apareça”, discursou o presidente, que, mais cedo, defendeu a pena de morte. “Algo tem que ser feito. Quando as pessoas fazem isso, devem receber a pena de morte”, disse aos repórteres, quando se dirigia a uma série de atos de campanha em Indiana e Illinois.
Policiais cercam a sinagoga: troca de tiros e pânico na vizinhança |
A nove dias das eleições legislativas, consideradas por comentaristas políticos como um “plebiscito” do mandato de Trump, os Estados Unidos se veem em meio a episódios de terror e violência. Na sexta-feira, a polícia prendeu, na Flórida, Cesar Sayoc, suspeito de enviar 13 pacotes bombas a destinatários como o ex-presidente Barack Obama, a ex-secretária de Estado Hillary Clilnton e o investidor George Soros. Ontem, após o massacre na sinagoga, Trump voltou a se posicionar em favor das armas, uma das bandeiras mais frequentes do governante. “Se houvesse um policial presente na sinagoga, o atirador poderia ter sido rendido”, afirmou.
Em julho, o rabino Jeffrey Myers, líder da congregação da Árvore da Vida, escreveu um post criticando a falta de leis sobre controle armamentista no país. “A menos que ocorra uma reviravolta dramática nas eleições de meio de mandato, temo que o status quo se mantenha inalterado, e tiroteios em escolas recomecem”, escreveu.
Wendell Hissrich, diretor de segurança pública de Pittsburgh: %u201Ccena horrível%u201D |
Antissemita
À imprensa, Wendell D. Hissrich, diretor de segurança pública da cidade, disse que o cenário dentro do templo era desolador. Com a voz embargada, afirmou: “É uma cena do crime horrível. Uma das piores que já vi, e já estive em alguns acidentes aéreos. É muito ruim”. A informação extraoficial é de que o atirador seja Robert D. Bowers, um homem de 46 anos com histórico de postar mensagens antissemitas nas redes sociais.
De acordo com o jornal The New York Times, em janeiro, Bowers criou uma conta na rede social Gab, um aplicativo popular entre supremacistas e ativistas de extrema-direita, onde costuma fazer publicações contra judeus. Há algumas semanas, ele postou o link para o site do Hias, organização não governamental judia que ajuda refugiados, e comentou: “Hias, vocês gosta de trazer invasores hostis para viverem entre nós?”. Horas antes do tiroteio no interior da sinagoga, Bowers publicou: “O Hias gosta de trazer para cá invasores para matar nosso povo. Eu não posso me sentar e ver meu povo ser sacrificado. Dane-se a ótica de vocês, eu vou agir”.
Pelo Twitter, Benjamin Netanyahu expressou solidariedade aos Estados Unidos e às vítimas do atentado. “Nós nos solidarizamos com a comunidade judaica em Pittsburgh e nos solidarizamos com o povo americano diante dessa terrível violência antissemita”, disse, em um vídeo publicado na conta do primeiro-ministro. “Orem pelos mortos, feridos, todas as famílias afetadas, e pelos nossos corajosos socorristas”, tuitou o vice-presidente norte-americano, Mike Pence. Além dos policiais do Departamento de Segurança Pública da Cidade, a Agência Federal de Controle de Armas, Tabaco e Explosivos, a ATF, enviou agentes especiais ao local.
“Meu coração está sangrando após a notícia vinda de Pittsburgh, a violência deve parar”, escreveu a primeira-dama, Melania Trump, no Twitter. A filha de Donald Trump, Ivanka Trump, que se converteu ao judaísmo, também condenou o ataque. “Os Estados Unidos são mais fortes do que os atos de um fanático perverso e antissemita”, publicou. “Todos os bons americanos apoiam o povo judaico e se opõem aos atos de terror, e compartilham do horror, desgosto e indignação pelo massacre em Pittsburgh. Devemos nos unir contra o ódio e o mal”, acrescentou.
“O veneno repleto de ódio do antissemitismo precisa ser condenado e confrontado onde quer que apareça. Algo tem que ser feito. Quando as pessoas fazem isso, devem receber a pena de morte”
Donald Trump, presidente dos EUA