TERROR NA PEDRA DA GÁVEA
(A Descida)
Robson José Calixto
O relâmpago tocou a cabeça da Pedra da Gávea e espalhou sua energia elétrica bruta, subindo pela perna que estava na água e se retransmitindo pessoa a pessoa que estavam juntas, sentadas nos cocurutos de pedra e se tocavam. Foi como sentir um espasmo de milissegundos após uma chicotada, o choque, jogando as cabeças delas para trás e deixando todos assustados. Zeca foi o único que não sentiu o choque, pois estava afastado alguns centímetros, ao ter se assentado em cocuruto mais à esquerda dos demais.
Os cinco que sentiram o impacto do relâmpago se entreolharam se perguntando se tinham sentido “aquilo” e como acontecera. Ele mencionou que estava com o pé na água, proporcionando um caminho para a passagem da corrente. Assustados rapidamente concluíram que era extremamente perigoso ficar ali, outro relâmpago que tocasse a Pedra da Gávea ou caísse nas imediações poderia ser fatal. Resolveram então deixar a posição onde tinham se abrigado e buscar outra, mais abaixo da Cabeça.
Saíram na chuva e entre rajadas de vento, estrondos de trovão e o clarão de relâmpagos que cruzavam o céu, desceram da Cabeça da Pedra da Gávea, se escorregando e agarrando freneticamente entre as fendas das enormes rochas, que tinham se apresentado como grandes obstáculos lisos pela chuva.
Mas conseguiram. Assustados, enlameados, molhados e com frio buscaram novo abrigo. E encontraram, justo para caber seis pessoas deitadas apertadinhas. Uns traziam sacos de dormir, outros cobertores, o que os protegeriam do frio que se já se instalava. Alena, a única mulher do grupo, deitou-se no meio, a aproximação dos corpos também favorecia a transmissão de calor.
Na madrugada fez-se silêncio na montanha e os seis o escutaram. A chuva parara. O frio dominava. Começava já acabar a noite e a manhã se iniciar. De repente Alena se ergueu, ficando sentada e olhando para frente por alguns minutos. Não se sabe a razão para isso, talvez vontade de se aliviar fisiologicamente ou outra coisa. Ela tentou deitar novamente, ainda estava um pouco escuro, não conseguindo mais de maneira confortável. Então todos resolveram se levantar, saindo do abrigo.
Olharam, olharam e viram nada, já que havia se estendido uma grande e espessa névoa. Não havia como começarem a descer. Resolveram então esperar mais um pouco, voltando ao abrigo e trocando impressões.
Passou-se algum tempo e a névoa começou a ficar rarefeita. Resolveram então descer. Contudo, tudo estava muito escorregadio e a vegetação molhada. Outro cenário é onde a água da chuva acumulara, havia se formado minicachoeiras, umas fracas outras mais fortes. Mesmo assim os seis manejavam a descida com maior cuidado, também de forma mais lenta, pois havia o perigo de escorregar e cair da Pedra da Gávea.
Para Ele a tensão aumentou quando se aproximaram, de novo, do perigoso trecho da terra preta. Os outros cinco, em particular Hudson, o alertou para ter muito cuidado no terreno inclinado. Se escorando na parede do trecho estreito e inclinado de cor preta, avançaram.
O que encontraram à frente, proporcionados pela tempestade e a água da chuva, era um cenário digno de filmes de Tarzan. Uma floresta tropical, com cipós, corredeiras em queda livre, árvores caídas. Andar ou descer de costas segurando em fendas e galhos não eram mais apropriados, a opção era usar os cipós para ir de um lado a outro, descer deitado de costas nas rochas e escorregando pelas corredeiras.
A descida se transformou em uma aventura de filmes de Hollywood rodados em florestas. Os seis sentiam uma alegria só, apesar de já estarem imundos e por estarem assim é que se aventuravam mais e desciam mais rápido.
Em uma das partes inclinadas da formação rochosa da Pedra da Gávea, desciam escorregando como em um tobogã, sendo levados pelas águas, passando por debaixo de galhos de árvores estendidos e de cipós mais baixos posicionados na perpendicular, formando arcos em catenária (parecida com parábolas), isto é, como cordas suspensas pelas suas extremidades e sujeitas à ação da gravidade, com as partes mais aguda voltadas para baixo. Descida em velocidade sem as cabeças bem abaixadas representavam perigo de enforcamento.
Resolveram formam uma fila e descerem um a um. Marquinhos passou primeiro deitado “voando”, levado pela corredeira. O próximo era o que escorregara na terra preta e ficara com o pé na água no momento que o relâmpago tocou a Pedra da Gávea. Ele também deitou e foi embora abaixo. Quem via em seguida era o Zeca, que ao invés de descer deitado como os primeiros, resolveu descer sentado, de cócoras. Foi uma péssima idéia.
Fim do Terceiro Capítulo (09/06/2017).
Nota: Esta não é uma obra de ficção tendo sido baseada em fatos reais.