TERROR NA PEDRA DA GÁVEA
(A Chegada)
Robson José Calixto
Mesmo de cócoras Zeca desceu rápido passando pela folhagem e na altura do pescoço dele um cipó na forma de catenária o aguardava como laço de forca. Nos décimos de segundo que percebeu o perigo iminente, Zeca jogou o corpo para trás e o cipó raspou-lhe a cabeça, não pegando o pescoço dele de forma que o esganasse ou quebrasse. Somente Ele e Zeca viram o que acontecera, a situação de perigo. Tarcísio e Marquinhos, irmãos de Zeca, só saberiam mais tarde, junto com Alena e Hudson.
Passado o susto continuaram a descida, tomando mais cuidado. Chegando na base da montanha, não muito longe da saída, observaram como todos estavam muito sujos de lama, de folhas, pedaços de planta, galhos, terra e tudo mais que passaram ou roçaram os corpos deles.
Também perceberam que envolta, onde existiam depressões no terreno, a chuva criara pequenas piscinas transparentes, de água fria e límpida, cercadas de plantas e árvores, onde se podia mergulhar, até nadar um pouco. Ficaram maravilhados e hipnotizados com aquilo, surpreendentemente belo após a tempestade e os relâmpagos. Ainda fazia um pouco de frio, bem menos que junto à cabeça da Pedra da Gávea.
Alena procurou uma das piscinas naturais maiores, alguns tenderam a acompanhá-la, entretanto Tarcísio pediu para que a deixassem sozinha ali. Assim, todos os homens do grupo se afastaram para buscar outras piscinas e Alena ficou sozinha, encoberta pela vegetação da floresta, protegida e oculta.
Os homens conversavam e se limpavam e tiravam a sujeira da roupa com a água da chuva, mergulhavam as pernas e se agachavam dentro das piscinas, proporcionalmente menores.
Quem tinha alguma muda de roupa para trocar o fez. Alena reapareceu com os cabelos escorridos e penteados e usava uma camiseta branca. O grupo se refez e juntou, caminhando em direção à saída, mas passaram poucos minutos outro caudal de chuva torrencial se despejou sobre eles. Não tinha como fugir mais, simplesmente deixaram a chuva cair sobre eles enquanto caminhavam, de novo a lama se formou, a vegetação se impregnou de impurezas, e onde passavam iam levando um pouco disso tudo, nas meias, nos shorts, bermudas, nas camisas.
Finalmente alcançaram o final da aventura, saindo da trilha que os levou por uma noite cheia de perigos, ameaças naturais e pleno contato com a natureza em seu estado bem bruto. Apesar de tudo levavam com eles um sentimento de paz e de provações. Saíram silenciosos, um pouco pensativos sobre tudo o que ocorreu naquela noite e naquela manhã. A vida humana tão frágil diante das forças primárias da natureza. Certamente todos os anjos e santos que os acompanhavam estiveram de plantão naquelas longas horas.
Rumaram para o Ponto de Ônibus mais próximo. Demorou um pouco mais um chegou, passou por eles e parou um pouco à frente. Todos os passageiros que estavam lá dentro e o motorista olharam ao mesmo tempo, atônitos, para trás para ver o grupo enlameado e molhado que subia. Ninguém falou nada. Olharam e voltaram seus olhos para a frente do ônibus, que partiu.
Alena, que morava por aquela região, foi a primeira a saltar. Os demais seguiram em frente. Hudson contaria depois que D. Olivia, a sua mãe, já tinha ligado para outras mães e pedido ajuda aos bombeiros para resgatá-los, preocupadas. Já tinha preparado alguns sanduíches e chocolate para levar para a Pedra da Gávea.
Na primeira reunião do Grupo Jovem que participavam, a seguir daquele final de semana, contaram o que tinha acontecido lá na Pedra. Alguns ficaram extasiados e sentidos porque não estavam lá também, saboreando a aventura. Alguns um pouco céticos. Não importa, aquela história seria contada por anos no Grupo Jovem. Eles mesmos, que estiveram lá em cima juntos na Pedra da Gávea, jamais esqueceriam daquela noite: lição para a vida toda.
Capítulo Final (16/06/2017).
Nota: Esta não é uma obra de ficção tendo sido baseada em fatos reais.