TERROR NA PEDRA DA GÁVEA
(A Cabeça)
Robson José Calixto
Ele escorregou e caiu em direção ao precipício da Pedra da Gávea. Só que no último segundo cravou e aprofundou os dedos na faixa estreita e inclinada da terra preta, ficando pendurado. Talvez os árduos treinamentos em makiwara - artefato na forma de prancha com alvo, utilizado para dar socos e endurecer as mãos -, quando ele praticava karatê shotokan o tenha ajudado. Quiçá Anjo da Guarda de plantão, intercessão de Santa Teresinha? Certo foi que com esforço voltou à terra preta, se debruçando para subir e retomar o caminho à cabeça de novo.
Hudson ficou paralisado, sua expressão era de incrédulo, apenas balbuciou, com seu sotaque de filho de cearense: “- Rapaz, o que foi aquilo?” Os quatro da frente nem viram o que acontecera, só ficariam sabendo um tempo depois.
O grupo voltou a ficar junto e a noite se aproximava, precisavam passar logo pelo ponto chamado carrasqueira, considerado o maior desafio para chegar ao topo da Pedra da Gávea, por ser uma espécie de paredão. A chuva fina e intermitente deixava tudo mais escorregadio, se fixar no terreno, muitas vezes coberto por vegetação, ou segurar com mais firmeza em galhos de arbustos ou nas pedras, se tornando cada vez mais difícil e perigoso sem os equipamentos adequados. Em terreno seco não é tão difícil assim. Enquanto subiam Hudson contava o que havia acontecido lá na terra preta aos demais.
Jovens subindo a carrasqueira. Foto: Haroldo Castro/ÉPOCA.
Fonte: Blog Deixa de Frescura.
Fonte: Blog Deixa de Frescura.
Aos poucos, com alguns escorregões, se enlameando, uns ajudando os outros, foram subindo e vencendo a carrasqueira. A chuva fina às vezes dava uma trégua. Finalmente chegaram à base da cabeça da Pedra da Gávea.
Chegar à base é uma coisa subir e caminhar no cocuruto da cabeça é bem diferente. O tamanho das pedras ou rochas que formam ou se acoplam à cabeça, bem maiores, significam desafio para as mãos nuas e para os pés se apoiarem em fendas. É preciso esforço adicional e quem for mais ágil deve subir primeiro para lá de cima dar apoio ou às mãos para quem está ainda embaixo e quer subir. Desafio maior ainda quando essas pedras estão lisas e escorregadias pela água da chuva. Às vezes se acha que não vai se conseguir.
Existe toda uma mística entorno da Pedra da Gávea. Existiriam inscrições em um dos lados da cabeça, à esquerda para quem a vê de frente.
A cabeça da Pedra da Gávea. Fonte: http://www.alemdaimaginacao.com.
O local das inscrições. Fonte: http://guiaviajarmelhor.com.br/os-misterio-da-pedra-da-gavea/.
As inscrições. Fonte: http://guiaviajarmelhor.com.br/os-misterio-da-pedra-da-gavea/.
As inscrições encontradas na “cabeça” da Pedra da Gávea teriam sido escritas em fenício arcaico, cuja tradução lida da direita para a esquerda, feita por pesquisadores, diriam: “Tyro Phenicia Badezir Primogênito de Jethbaal”, se referindo a dois irmãos como “gêmeos”, filhos mais velhos de Badezir, Rei Fenício por volta de 856 antes de Cristo, segundo o Guia Viajar Melhor, mais outras fontes abordam de forma semelhante. Essas inscrições junto com algumas ânforas achadas na Baía de Guanabara comprovariam que os fenícios já tinham estado no Brasil bem antes dos portugueses.
Depois de muito esforço e ajuda mútua, os seis conseguiram alcançar o topo da cabeça da Pedra da gávea. Foi uma emoção indescritível: a altura em que se estava, ver a cidade toda iluminada, o vento, uma emoção superior, uma alegria. Uma visão maravilhosa e sem chuva e com abertura para um céu de estrelas. Algo maravilhoso, terno, belo, eterno.
De repente a cidade do Rio de Janeiro se apagou, blackout geral. Os seis se entreolharam e não entenderam nada. Mas a cidade apagada permitia ver mais longe no horizonte escuro, só iluminado pela lua e as estrelas. Cidades distantes que não sofreram o apagão podiam ser vistas com nitidez. Também alguns relâmpagos podiam ser admirados ao longe. Estavam sozinhos naquela noite na Pedra da Gávea.
Já começavam a escolher em que parte da cabeça iriam se deitar, curtir a noite e descansar, e veio uma lufada de ar mais frio, uma mudança nas emoções, o céu se fechou, as nuvens se movimentaram e uma tempestade os amassou.
Juntaram as coisas e se apressaram para descer da cabeça, visando buscar algum abrigo, a chuva caía forte, relâmpagos se movimentavam. Entre a base e o topo havia uma gruta, se esconderam lá. Se arranjaram como puderam, sentando em alguns cocurutos de pedra, muito próximos e meio tortos, quase se tocando, porque era tudo muito irregular para se ficar. O barulho da tempestade era forte, gotas pingavam nas cabeças deles, estrondos e claros iluminavam o esconderijo. Um pequeno riacho se formou aos pés deles, por onde escorria a chuva. As faces das pedras, rochas, já estavam sendo lavadas. A maioria estava meio acocorada, entretanto Ele deixara uma perna esticada, com o pé na água. Então um relâmpago tocou a cabeça da Pedra da Gávea.
Fim do Segundo Capítulo (25/05/2017).
Nota: Esta não é uma obra de ficção tendo sido baseada em fatos reais.
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