Sua maior preocupação na vida era que já estava passando dos quarenta anos, virando titia, e ainda não havia encontrado um pretendente do seu agrado para se casar. Enquanto isso, todas as suas colegas da irmandade e vizinhanças já haviam feito o caminho inverso.
Não sabia a quem atribuir esse caritó: se a sua exigência por um homem que só seus olhos enxergavam ou porque sentia medo de se aproximar de um pretendente, por ser muito fechada e arisca. Ou talvez trauma da infância.
Mesmo assim, uns dez ou vinte candidatos já lhe teriam se chegado perto, mas ela ficava arisca, cismada quando ia ser abraçada ou beijada. Quando o caboclo se enxeria muito ela já passava um rabo de olho enviesado para ver se a braguilha ou o calção do pretendente estavam intumescidos, com o “trussue duro”, e quando percebia algo estranho procurava se afastar toda desconfiada, e o descartava na bucha. Ó Deus! – Por que todo homem só pensa naquilo e quer logo comer a gente? – lamentava ela sem não entender!
Solteirona reprimida, sonhava quase todas às noites com um príncipe encantado diferente lhe beijando o cangote, lambendo as orelhas, roçando o pescoço, pegando-lhe os peitos fartos, mas quando aproximava a mão boba por cima do cara preta, ela se acordava assustada e sonhando em bica. – Meu Deus, o que está acontecendo comigo?! – Indagava-se a si mesma na penumbra do quarto solitário.
Um dia criou coragem e foi se confessar com o padre Rubião, um Alemão mais vermelho do que a carne da FRIBOI, e contar-lhe os sonhos eróticos que vinha fantasiando constantemente.
Véu na cabeça, entre as dez beatas que estavam à sua frente para se confessar, chegou a sua vez. Ajoelhou-se. Pigarreou nervosa. E no silêncio do confessionário o padre lhe perguntou: Minha filha, o que traz você aqui?
– Padre, respondeu ela nervosa. Eu estou assustada comigo mesma, padre. Estou com quarenta anos, sou solteira, virgem ainda, cabaço, sonho todos os dias com um homem diferente me possuindo, mas todos que se aproximam de mim, no sonho, eu expulso com medo, me acordo assustada com a calcinha dota molhada de desejos. Aí meu Deus! Isso não é pecado não, padre, esses sonhos estranhos comigo? Deus não vai me castigar?
– Minha filha – respondeu o padre Rubião! “Deus” não castiga ninguém! O castigo de “Deus” é uma heresia que a igreja inventou para meter medo nas descerebradas! O primeiro que se lhe apropinquar de hoje em diante, não perca tempo não. Agarre-o, namore-o, case-se ou se junte, dê, mas realize seu sonho! Não se esqueça: Deus está de cunhão cheio de tanto cabaço solto no céu e com mais o seu ele vai pirar. Esses sonhos que você está tendo, é falta de estímulo à libido! Exercite-a urgente senão você vai surtar feito Maria Madalena!
Terezinha, que já vinha de olho em Lucio, um eunuco com cara de debiloide de mais de cinquenta anos que frequenta a igreja também, ficou ouriçada com as palavras do padre, e partiu para conquistar o solteirão e, não mais pensando com a cabeça e sim com a parte do corpo de baixo, cantou o pretendente se gostaria de lhe namorar.
Dois meses depois dessa cantada, ficaram noivos. Ela fazendo questão de escolher e pagar as alianças e acertar o dia do casamento, pois não aquentava mais aquele caritó, aqueles sonhos eróticos alucinados, aqueles desejos que lhe pipocavam os poros, lhe deixando maluca. Queria sentir o gosto do desejo, do prazer, do clímax, em fim. Não queria perder mais tempo sem o remelexo da sanfona, o vai e vem do camelo, o rela bucho do chamego apimentado da sanfona de oito baixos.
Quatro meses depois do noivado, ela mesma marcou a data do casamento. Comprou o enxoval, o traje de casamento do noivo, preparou os convites, tudo que um casório propiciava.
Solteirona juramentada, que recebia uma gorda pensão especial por morte do pai, que havia sido ex combatente da Segunda Guerra Mundial, dinheiro não lhe era problema, era solução.
Quando chegou o dia do casamento ela, que nunca havia ido a uma manicure depiladora, mandou a profissional caprichar: fazer barba, cabelo e bigode na possuída, deixando-a nos trinques para a tão sonhada noite de núpcias com o maridão.
Após a realização do casório na igreja As Escadas Para o Paraíso Eterno com a bênção do padre Rubião e o seu “tivirta-se”, Terezinha, só pensando naquele momento que toda noiva sonha na alcova, deixou os convidados na igreja, pediu licença a todos os presentes e partiu para o que ela achava ser a noite mais alucinante do mundo!
Pegou o Gordini Renault anos cinquenta, assumiu a direção, mandou o marido entrar, e deu uma arrancada tão da gota serena que os pneus cantaram no asfalto, tamanha era a vontade de se ver nua na frente do agora esposo, se deliciando de todas as fantasias sexuais que lhe passavam pela cabeça naquele momento.
Chegando em casa, não perdeu tempo. Mandou o esposo para o quanto, pediu-lhe que a aguardasse com a luz na penumbra e foi para a suíte se produzir para a dança do ventre antes das loucuras de amor com o maridão na cama.
Para sua frustração e toda produzida para aquele momento tão esperado, quando entrou no quarto encontrou o esposo roncando no sono eterno e ainda vestido com o traje do casamento.
Tentou acordá-lo, mas não conseguiu porque o eunuco estava no sono tão profundo que parecia um paciente entubado na UTI do SUS. Havia tomado um comprimido de Gardenal e outro de Rivotril ainda quando estava na igreja se casando.
Frustrada, decepcionada, arrasada com o ocorrido, Terezinha viveu por mais dois meses com essa angústia de não ter podido concretizar a tão sonhada noite de núpcias, e ainda teve de engolir as piadinhas e os sarros das colegas da igreja, da família e de outras dondocas que se encontravam na mesma situação que ela: cabaço!
Puta da vida e decidida a romper com todos os seus conceitos e preceitos de pecados, religião, “temência a Deus” e disposta a mandar o padre para a puta que o pariu também, decidiu expulsar o eunuco e inútil esposo de casa com todos os seus “mijados” e pediu o divórcio por absoluta incapacidade de copulação dele.
Dois dias depois do rompimento do casório, magoada ainda, mas disposta a não perder mais tempo com o caritó, se encontrou com Tião, um colega íntimo e bem gaiatão que já a havia cantado mais de cem vezes e ela não lhe caia nas lábias.
Conversar vai, conversa vem e, dirrepentelho, Terezinha estava nos braços do garanhão que, já sabendo do ocorrido, partiu para cima com todos os poderes de Grayskull, e tome beijos para lá, tome beijos para cá: no cangote, nas orelhas, no pescoço, no umbigo, nos peitos. Chamego, amasso, esfrega frega, que satisfez Terezinha na primeira noite sem ser de núpcias, que ela se sentiu tão feliz, tão relaxada, tão satisfeita, tão realizada, que quando amanheceu o dia, ela abriu os olhos e não desejando perder mais tempo, sussurrou no ouvido de Tião, que já estava todo quebrado da noite anterior:
-Amor, eu quero mais calamengal. Me faz recuperar esses tempos perdidos! Vem, olha como eu estou…
E sem mais temer os pecados de “Deus” e as ameaças do padre com inferno e tal, Terezinha se joga nos braços de Tião novamente, como se o mundo fosse acabar naquele momento, se delicia nas fantasias do prazer e nas loucuras do amor, suspirando, fungando, sussurrando e gritando de exultação.
Terminada a copulação e curioso por aquela grinalda de cem graus de Terezinha nas atitudes antes conservadoras, Tião se virou para ela, beijou-a mais uma vez a boca carinhosamente, e perguntou-lhe:
– Amor, por que essa mudança tão brusca na sua vida? Descobriu que o paraíso é aqui na terra, foi?
– Sim, amor! Descobri que “Deus” não reprime, não oprime, não censura e não proíbe nada que traz o bem! Ele nos deu o livre arbítrio para escolhermos e fazermos o que quisermos e desejarmos conosco e nosso corpo. A gente é que se reprime com o fantasma do pecado inventado pelo homem! Eu vivi essa ilusão por toda minha vida, mas agora me libertei com você! Disse isso e voltou a beijar Tião novamente na boca, desejando mais uma vez que ele a possuísse.