Feliz em encontrar a irmã no shopping, Ismael puxou duas cadeiras da mesa de um bar, pediu dois chopes no início daquela tarde de sexta-feira. Virgínia olhou-o, sorriu-lhe, sorveu um gole de chope, puxou a conversa.
– Ismael querido, há algum tempo precisava falar com você. Só nós dois é que sabemos o quanto nos amamos, sou louca pelo meu irmãozinho desde criança, nossas afinidades são escancaradas. Você casou-se, separou-se três vezes, agora está solteiro novamente aos 50 anos, nunca dei palpite em sua vida amorosa, boêmia e escandalosa. Desculpe eu estar me intrometendo em seu novo namoro, disseram-me que vai casar-se com a Maju. Até gosto da moça, mesmo com quase 20 anos de diferença, parece ser equilibrada e sensata. Acontece que me informaram um pequeno detalhe de sua vida pessoal, tenho obrigação de lhe passar, não quero que meu irmão seja enganado. Uma fonte fiel confidenciou-me, ela é sapatona, ou melhor, bissexual, tem um caso com aquela morena, andam muito juntas, se diz prima. Desculpe eu tocar em sua vida particular. Sabendo do fato, seria uma traição por omissão não contar-lhe esse pequeno detalhe.
Ismael respirou fundo, tomou dois goles de chope, pensou, pensou, respondeu à irmã ainda no impacto emocional da notícia.
– Obrigado Virgínia, você agiu bem, não poderia ser de outra forma. Francamente, nunca desconfiei. Eu até gosto da Girlene, a amiga inseparável, nada até agora me fez perceber essa opção sexual de Maju, sei que ela gosta de homem, tenho certeza, na cama é um arraso. Vou pensar no que fazer, é um caso grave, não sei se dá para conviver sabendo que a sua mulher gosta também de mulher. Obrigado minha irmã.
Pediram mais chope, passaram a tarde conversando amenidades.
Eram nove horas da noite quando Ismael encontrou-se com Maju numa barraca na orla, acompanhada de Girlene, tomaram chope, uísque, tira-gosto, jantaram quase meia noite. Duas horas da manhã deixaram Girlene em casa, dormiram no apartamento, amaram-se com ardor, Ismael nunca mais havia passado uma noite de amor com tanta intensidade. Pela manhã do sábado resolveram dar um mergulho na praia de Guaxuma, bebericar até o final da tarde. Maju perguntou se podia convidar Girlene.
– Tudo bem disse Ismael, mas, antes, quero uma conversa. Foi claro e taxativo com a namorada.
– Maju, temos mais de um ano juntos, somos adultos, lhe amo, tenho de ser sincero. Sua amizade com Girlene vem atiçando a maldade alheia vieram me fuxicar de um relacionamento íntimo, que vocês são caso, é o mexerico corrente nas rodas de nossa convivência que chegou aos meus ouvidos.
Maju ouviu olhando nos olhos do namorado, baixou a cabeça, respirou fundo, encarou-o novamente, abriu seu coração com franqueza.
– Ismael querido, é verdade, eu tenho essa opção sexual a mais, sou bissexual, a Girlene não é só minha prima. Eu estava esperando um momento apropriado para lhe confessar. Conversei muito com Girlene, tenho uma proposta, você pode até se chocar, não imagino sua reação. Minha única certeza é que lhe amo, quero você, quero ficar com você, não importa se casados ou juntados. Minha proposta é meio louca, entretanto, foi bem pensada, amadurecida. Quero continuar nosso relacionamento como está, sem casamento, cada qual em seu lugar. Peço-lhe apenas você passe uma noite com Girlene, conversando, sinta como é uma pessoa boa, entre em sua intimidade, depois me diga se aceita a situação, sem compromissos.
Ismael, um conservador, teve um impacto com aquela inusitada proposta, pediu um tempo para pensar. Foram à praia, Guaxuma estava linda.
Depois de uma semana analisando friamente a proposta, Ismael topou passar uma noite conversando com Girlene. Foi simples, Girlene apareceu em seu apartamento numa noite de Lua. Ajudados por uma garrafa de uísque conversaram na varanda, entenderam-se às maravilhas na sala e no quarto. No dia seguinte tinha resolvido a situação satisfatoriamente, agradando às três partes. Estão em período de adaptação, tiraram férias juntos, passeando em Lisboa, o mais caro foram as três passagens de avião. Ismael aderiu aos Tempos Modernos.