– Preciso conversar com você. Pode dar-me alguns minutos?
Disse Stella abraçando o irmão ao encontrá-lo no shopping no início daquela tarde de sexta-feira. Feliz em esbarra com a irmã querida, Augusto puxou duas cadeiras, sentaram-se. Pediram dois chopes.
Stella olhou-o, sorriu-lhe, foi direto ao assunto.
– Guto querido, só nós dois é que sabemos o quanto nos amamos. Sou louca pelo meu irmãozinho desde criança, nossas afinidades são escancaradas. Você casou-se, separou-se, agora está solteiro novamente aos 40 anos. Eu nunca dei palpite em sua vida amorosa, boêmia e escandalosa. Desculpe estar me intrometendo em seu novo namoro, você falou-me até em casamento. Nada de pessoal contra Vilma, até gosto da moça, parece equilibrada e sensata. Informaram-me um pequeno detalhe de sua vida pessoal, tenho obrigação de lhe repassar, não quero que seja enganado. Fonte fiel confidenciou-me, ela é sapatona, ou melhor, bissexual, tem um caso com aquela morena, andam muito juntas, se diz sobrinha. Desculpe eu tocar em sua vida particular. Sabendo do fato, seria uma traição por omissão não contar-lhe esse importante detalhe.
Augusto respirou fundo, tomou dois goles de chope, pensou, pensou, pensou, respondeu à irmã ainda no impacto emocional da notícia.
– Obrigado Stella, você agiu bem, não poderia ser de outra forma. Francamente nunca desconfiei da bissexualidade de Vilma. Eu até gosto muito de sua sobrinha Glória, nada me fez perceber outra opção sexual, que ela gosta de homem tenho certeza, na cama é um arraso. Vou pensar no que fazer, não sei se dá para conviver sabendo que sua mulher gosta também de mulher. Obrigado minha irmã.
Augusto pediu mais chope, passaram a tarde conversando.
Eram nove horas da noite quando Augusto encontrou-se com Vilma na Barraca Pedra Virada, orla da Ponta Verde, acompanhada de Glória. Tomaram chope, uísque, jantaram. Eram duas horas da manhã quando deixaram Glória em casa, dormiram no apartamento, amaram-se feito animais, Augusto nunca mais havia passado uma noite de amor com tanta intensidade. Pela manhã do sábado resolveram dar um mergulho na praia do Francês, bebericar até o final da tarde. Vilma perguntou se podia convidar Glória.
– Tudo bem. – disse Augusto, mas foi claro com a namorada.
– Vilma, temos mais de dois anos juntos, somos adultos, lhe amo, tenho de ser sincero. Sua amizade com Glória vem atiçando a maldade alheia. Vieram me fuxicar de seu relacionamento íntimo com Glória, que vocês são caso, é o boato corrente nas rodas de nossa convivência.
Vilma ouviu olhando nos olhos do namorado, baixou a cabeça, respirou fundo, encarou-o novamente, abriu seu coração com franqueza.
– Augusto querido, é verdade, eu tenho essa opção sexual a mais, sou bissexual, a Glória não é minha prima. Estava esperando um momento apropriado para contar toda verdade. Conversei muito com Glória, temos uma proposta, você pode se chocar, francamente não sei sua reação. Minha única certeza é que lhe amo, quero você, quero ficar com você, não importa se casados ou juntados. Minha proposta é meio louca, moderna, entretanto, foi bem pensada, amadurecida: Quero continuar nosso relacionamento como está, cada qual em seu lugar. Peço apenas que você passe uma noite com Glória, sinta como é uma pessoa boa, também é bi, entre em suas intimidades, depois me diga se aceita a situação, sem compromissos. Vamos viver nós três juntos e que tudo mais vá para o inferno.
Augusto teve um impacto com aquela inusitada proposta, pediu um tempo para pensar. Conversou, passou duas noites com Glória. Não precisou muito tempo para definir-se. Estão em período de adaptação, tiraram férias juntos, estão passeando na bela Cartagena das Índias, Colômbia, fazendo um ajuste de costumes.