O sabor do tempo varia, como varia o sabor dos frutos, doces e amargos. Os amargos tempos, jogo-os longe numa distância tal que me permita esquecê-los. Os doces, costumo guardar na gaveta da esperança, embrulhados com papel de sonho, e sempre que estou triste vou lá e os desembrulho, esfrego-os no peito e a alma se rejuvenesce, tão feliz quanto aquele retalho de chita guardado, sempre alegre, colorido e feliz. É quando o relógio para e os calendários se embranquecem, sem datas a marcar, sem segundas ou quintas. É quando o coração gargalha e a carne treme habitada pela alegria dos dias bons. Relógio, deixo-o parado o quanto posso; calendário, para quê? Pedaços de tempo feliz não sabem contar os dias.