TEMPESTADE AMAZÔNICA
Humberto de Campos
O calor asfixia e o ar escurece. O rio,
Quieto, não tem uma onda. Os insetos na mata
Zumbem tontos de medo. E o pássaro o sombrio
Da floresta procura, onde a chuva não bata.
Súbito, o raio estala. O vento zune. Um frio
De terror tudo invade... E o temporal desata
As peias pelo espaço e, bufando, bravio,
O arvoredo retorce e as folhas arrebata.
O anoso buriti curva a copa, e farfalha.
Aves rodam no céu, num estéril esforço,
Entre nuvens de folha e fragmentos de palha.
No alto, o trovão repousa e, em baixo, a mata brama.
Ruge em meio à amplidão. Das nuvens pelo dorso
Correm serpes de fogo. E a chuva se derrama...