TEIXEIRINHA, O REI DO DISCO
Raimundo Floriano
Três momentos de Teixeirinha
Vítor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, cantor, músico e compositor, nasceu em Rolante (RS), a 03.03.1926, e faleceu em Porto Alegre (RS), a 04.12.1985, aos 59 anos de idade.
Filho de carreteiro, tinha 6 anos de idade quando seu pai morreu. Três anos depois, perdeu a mãe, vítima de um incêndio, e passou a sustentar-se como entregador e vendedor ambulante.
Lançou-se artisticamente em circos e emissoras gaúchas do interior, apresentando-se depois em Porto Alegre, onde começou a obter popularidade cantando em churrascarias e programas folclóricos, acompanhando-se ao violão. Fazendo programa na emissora de Passo Fundo, recebeu convite para gravar em São Paulo (SP), estreando na Chantecler, em 1959, como intérprete e autor de Xote Soledade e Briga no Batizado.
Seus primeiros discos não obtiveram repercussão, mas, em 1961, Teixeirinha tornou-se sucesso nacional, com o lançamento, pela gravadora Copacabana, de Coração de Luto, toada em que narrava a morte da mãe.
Ainda em 1961, excursionando por cidades gaúchas, conheceu, em Bagé, a menina Mary Terezinha, nascida em Tupanciretã (RS), a 30.03.1948, acordeonista e cantora na rádio local, que se tornou sua acompanhante efetiva e parceira amorosa, numa carreira que durou por 22 anos.
Obtendo enorme popularidade como autor e intérprete de um gênero misto de regionalista e sertanejo dirigido a público bastante específico, passou a atuar no cinema, produzindo cinco filmes, dos quais foi também o argumentista e o ator principal. O primeiro foi o autobiográfico, Coração de Luto, de 1966, seguindo-se Motorista Sem Limites, de 1969, Ela Tornou-se Freira, de 1971, Teixeirinha a Sete Provas, de 1972, e Padre João, de 1974. Sua filmografia inclui participação em sete outras peças de diretores diversos.
Teixeirinha e Mazzaropi foram os maiores fenômenos populares do cinema sul-americano regional. No caso do cantor gaúcho, seus filmes chegaram a superar 1,5 milhões de espectadores, obtidos apenas nos três Estados sulistas: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Eram, em sua maioria, co-produzidos por distribuidores e exibidores locais, que lhes asseguravam a permanência em cartaz.
Com mais de 40 elepês gravados e autor de cerca de 700 músicas, comandou na Rádio Farroupilha, de Porto Alegre, os programas Teixeirinha Canta Para o Povo do Brasil e Teixeirinha Amanhece Cantando.
Teixeirinha ficou também conhecido como Rei do Disco, pelos recordes de vendas que conseguiu e consegue até hoje, mesmo já falecido. Com extensa discografia, muitas de suas gravações ainda podem ser encontradas nos sites virtuais do mercado fonográfico. Obteve ele um recorde de venda de discos, sendo que, até 1983, lançou 70 elepês e vendeu 88 milhões de cópias. Estima-se que, até os dias atuais, tenha ultrapassado a marca de 120 milhões de cópias em todo o mundo.
Teixeirinha deixou 7 filhas e dois filhos: Sirley, Líria Luisa, Victor Filho, Margareth, Elizabeth, Fátima, Márcia Bernadeth, Alexandre, e Liane Ledurina.
Sendo ele um dos maiores músicos brasileiros, morreu precocemente no dia 4 de dezembro de 1985, vítima de câncer, e foi sepultado no Cemitério da Santa Casa em Porto Alegre.
Em reconhecimento por seu belo e profícuo trabalho em prol da MPB, especialmente da regional gaúcha, sua vida foi até transformada em histórias em quadrinhos.
Numa demonstração do quanto era alegre a maioria das músicas com que nos brindou, vejamos a engraçadíssima letra de Cobra Sucuri, polca de Gildo de Freitas:
Eu às vezes tô me lembrando
De um bom compadre que eu tinha
Valente como um diabo
Pior que galo de rinha
Quando o compadre puxava
Sua faca da bainha
Até a própria polícia
Prometia mas não vinha.
Me contou um morador
Lá do Rio Gravataí
Que na costa desse rio
Ninguém mais pescava ali
Porque diz que aparecia
Uma cobra sucuri
E aquela cobra fazia
Todos pescador fugir.
Eu contei pro meu compadre
Ele garrou pegou a ri
Convidou pra nós ir lá
E eu já me arrependi
Pra ele não embrabecer
Eu fui obrigado a ir
Lá na costa desse rio
Ver a cobra sucuri.
Nós chegamos na barranca
Eu senti um arrepio
Mas quando eu vi a cobra
O meu compadre também viu
A água fez uma onda
Na onda a cobra sumiu
E ainda por desaforo
Deu uns quatro ou cinco pio.
Meu compadre vendo a cobra
Já foi largando as tamancas
Deu um jeitinho no corpo
E da sua faca arranca
A cobra veio piando
Veio subindo a barranca
E eu também já fui subindo
Num pé de figueira branca.
Lá de cima eu tava vendo
Como um homem se desdobra
Aí vi que o meu compadre
Tinha destreza de sobra
Ele foi dando um jeitinho
Foi fazendo uma manobra
Em vez da cobra comer ele
Ele é quem comeu a cobra.
Depois da cobra comida
Meu compadre embranqueceu
Olhou para mim e disse
Por que foi que tu correu?
Ora, ora meu compadre!
Tu bem sabe quem sou eu
Eu tava louco de medo
Da cobra que tu comeu!
Ouçamos um pouco das gravações de seu riquíssimo repertório:
Coração de Luto, toada de sua autoria:
Briga no Batizado, polca de sua autoria:
Desafio, batidão de sua autoria, com a participação de Mary Terezinha:
Saudade de Passo Fundo, xote de sua autoria:
Cobra Sucuri, polca de Agildo de Freitas: