Em cartaz desde maio de 2017, a peça “Contos negreiros do Brasil” já foi vista por cerca de 60 mil pessoas e, após passar por 16 cidades, está em cartaz novamente no Rio, no Teatro Firjan Sesi. Adaptação do livro “Contos negreiros”, do pernambucano Marcelino Freire, publicado em 2005 e vencedor do Prêmio Jabuti do ano seguinte, o espetáculo trata, sem rodeios, de preconceito.
Oito dos 17 contos do livro são levados ao palco, com direção de Fernando Philbert, e apresentados junto com índices sobre população negra do país, lidos pelo elenco. Para Rodrigo França, ator que assina a pesquisa, o livro e a peça dão voz a personagens “marginalizados”.
— Os contos do Marcelino trazem vida a corpos objetificados, marginalizados, silenciados e hiperssexualizados. O espetáculo une essa estrutura literária com uma pesquisa em números estatísticos sobre o racismo. É uma forma de desmontar o mito da democracia racial brasileira — acredita França, que divide o palco com Marcelo Dias, Milton Filho, Aline Borges e Valéria Monã.
Marcelino Freire se mostra satisfeito com o resultado.
— Meu texto é ficcional, a partir dessa realidade que me toca, mas a dramaturgia e esses dados levantados pela pesquisa acentuam as questões colocadas no livro. O espetáculo ganha uma urgência — acredita Freire.
O conto “Coração”, por exemplo, fala sobre homossexualidade negra, e também sobre solidão. “Totonha” é inspirado em uma tia do autor que se recusava a aprender a ler e escrever. Projeções no palco retratam vivências negras, como mães que perderam seus filhos para a violência nas periferias.
— Quando pensamos em desemprego, homicídio, comunidade carcerária e baixa escolaridade, a maior incidência está no corpo negro como vítima — diz França.
Onde: Teatro Firjan Sesi. Av. Graça Aranha 1, Centro (2563-4163). Quando: Seg e ter, às 19h. Até 5 de novembro. Quanto: R$ 20. Classificação: 14 anos.