RIO — Tatá Werneck está aliviada. Depois de dias “superneurótica” com os protocolos contra a Covid-19 para gravar com segurança a nova temporada de “Lady night”, ela voltou para a sua “ultra rígida” quarentena. Entocada, edita os 14 episódios do programa que estreia no Multishow dia 3, com convidados como Xuxa, Luciano Huck, Fabio Assunção, entre outros.
— Esse período sublinhou o quanto não estamos no mesmo barco. Tem gente em situações de pobreza inimagináveis — diz ela, reconhecendo os privilégios antes de permitir-se praguejar, com aquele seu humor. — O teto da minha casa caiu, meu cachorro morreu, lidei mal com puerpério, quarentena, medo, depressão pós-parto, além das outras mil neuroses que já carregava.
Na entrevista a seguir, ela fala sobre culpa materna, diz se sentir cobrada a ser a mãe perfeita e se define como “bagaceira” no Instagram, onde tem 43 milhões de seguidores.
Como foi gravar “Lady night” sob os novos protocolos?
Difícil, ficava tentando perceber se o convidado estava seguro. Pedia o tempo todo para passar álcool em gel. Testava os convidados duas vezes. Eu fazia teste quatro vezes por semana. Me sentia responsável por cada um. Fazer sem público também é esquisito. Porque a verdade é que eu fazia muito mais pra animar quem estava na plateia do que para a TV. Vim do teatro. O público me alimenta. Faço tudo por eles.
O capacete de proteção, funcionou? O selinho fez falta?
Não dá para gravar com ele, usei só uma vez. Ficávamos sem máscara, mas tínhamos um acrílico separando. Não senti falta. Claro que, quando vem um Fabio Assunção, a gente pensa: “Não terei outra oportunidade” (risos).
Pode citar momentos legais?
Estar com a Xuxa foi precioso. Minha estreia na TV foi no programa dela. Minha primeira demissão também. Saber que ela voltou ao Projac pela primeira vez para gravar o “Lady” foi uma benção. Fabio Assunção é encantador, parece um menino se divertindo. Vladimir Brichta é genial. Luciano (Huck) é incrível, gentil, disponível e surpreendente. “Lady night” é um encontro genuíno entre duas pessoas comuns. Que na pandemia estão com mais medo, mas estão ali, de verdade, sem assessoria.
Não dá para ficar em cima do muro no seu programa...
Sabem que não funciona se não se soltarem. Aí, melhor nem ir. A plateia ajuda nisso. Sem ela ficamos com medo de parecer um papo intimista no Maracanã. Mas achamos o tom. Fazer comédia com medo é difícil. Mas liberta.
Como foi conciliar trabalho com bebê na quarentena?
Acho que tive baby blues ou depressão pós-parto, mas demorei a perceber por nunca ter passado por nada parecido. E porque estava louca de amor pela minha filha. E porque pessoas próximas diziam que era apenas “frescura”, o que fez com que me sentisse mais culpada. Mas descobri que a depressão pós-parto pode potencializar o medo. Comecei a ter medo de tudo. Queria poder proteger minha deusa 24 horas por dia. E tentar cuidar de todo mundo. Ficava nervosa por ver que não conseguia proteger todas as pessoas que amo. Mas já estou bem. Foi no começo da quarentena.
E a autoestima?
Minha vaidade está em fazer um trabalho bem feito, ser boa companhia, estar com energia boa. Não passa pela estética. Fui na Fátima Bernardes de toalha na cabeça porque não conseguia tirar o nó do cabelo. Fazer o básico! Estávamos sozinhos com a bebê, 20 bichos numa casa muito maior do que uma pessoa sensata precisa. Hoje tenho certeza disso.