Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

De Balsas Para o Mundo sexta, 07 de abril de 2017

TÁ FALTANDO UM

TÁ FALTANDO UM

Raimundo Floriano

 

 

Ao luar do sertão: o terror da violência

 

                    No dia 12 de junho de 2004, ao meio-dia, eu me encontrava no Iraque, em plena guerra!

 

            Espere aí, meu povo, a guerra à qual me refiro não é aquela do Oriente Médio, mas a batalha que eu e alguns amigos travávamos contra as garrafas cheias, à venda nos botequins do Iraque, assim conhecida a parte de baixo da Praça da Matriz de Santo Antônio de Balsas, durante o Festejo.

 

             Os amigos se locupletando na cerveja, na pinguinha e noutras quentes, e eu, no refrigerante diet. Combate ameno, luta prazenteira.

 

            Muito mais violenta do que a mencionada guerra bushiana é a que se trava diariamente no nosso Brasil, numa luta inglória e desigual: de um lado, bandidos fortemente armados, do outro, cidadãos pacatos e inermes, na brutalidade que se alastra por todo o país, chegando até ao pacífico sertão sul-maranhense, a exemplo da cruel execução a sangue-frio de que foi vítima, recentemente, o empresário José Eduardo, proprietário da Casa do Fazendeiro, no Alto Bonito, já quase chegando em casa, quando retornava de viagem a São Paulo.

 

            Pois bem, ali no nosso pelejar iraquiano, na doce vida, chegou meu contraparente Jorginho Silva com uma novidade:

 

            – Lá na Vaquejada, no Parque de Exposição, eu vi uma coisa por demais interessante. Todo mundo está com um jornal estampando a foto da Seleção Balsense de Futebol de 1956, que ganhou de Carolina no Festejo daquele ano!

            – Jorginho, que jornal é esse? – indaguei.

            – É O Fazendeiro, editado quinzenalmente pela Casa do Fazendeiro, daqui de Balsas mesmo.

            – Rapaz, no meu livro Do Jumento ao Parlamento, lançado aqui no Festejo de 2003, há um episódio semelhante. Talvez tenham copiado o que publiquei.

            – Não sei – disse o Jorginho –, mas o caso é que todo mundo está admirando o feito.

 

            Ora, se fosse uma cópia do livro, não havia problema. Eu mesmo a autorizara, no Copyright, desde que citados o autor e a fonte. Precisava verificar isso. Como estávamos saindo em carreata, dirigindo-nos à residência do casal Antônio Augusto e Luíza Pires, onde se realizava uma feijoada comemorativa ao Dia dos Namorados, chamei meu amigo Luizão, acumulando os cargos de Segurança e Assessor para Assuntos Terranatalenses, e determinei que fosse em busca de um exemplar do pré-falado jornal. Ele, que não queria abandonar a boca-livre daquela comitiva, chiou:

 

            – Marraimundo!

            – Se vire, Luizão. Ande ligeiro, arrume o jornal e vá nos encontrar lá na casa da Luíza.

 

            A feijoada estava superlotada de amigos, companheiros de velhos carnavais. Muita música e alegria, em ambiente descontraído e acolhedor. Mal chegáramos, e já me aparece o Luizão, todo esbaforido, com a missão cumprida.

 

            De cara, gostei do que vi. Elaborada primeira página, manchetes bem destacadas, seções diversificadas em mais 11 páginas, fotografias em profusão. Porém não deu outra: era cópia sem menção do meu livro.

 

            No dia 14, rumei para a Redação do quinzenal, no intuito de pedir uma explicação. A Casa do Fazendeiro fervilhava de clientes. Quando lá entrei, sem conhecer pessoa alguma, fui direto a um dos caixas e perguntei a um camarada que se encontrava ali por perto:

 

            – Você trabalha aqui?

            – Sim! O que o senhor deseja?

 

            Expliquei-lhe o motivo de minha presença ali, ele me pediu que eu esperasse e entrou por uma porta à direita. Não demorou, e o camarada estava de volta em companhia de outro funcionário da empresa:

 

            – Este aqui é o jornalista Carlos Airton Rocha, Chefe da Redação.

 

            O Carlos Airton foi extremamente receptivo às minhas ponderações colocando-se à disposição para os necessários esclarecimentos, franqueando-me suas páginas para os meus escritos, o que aconteceu logo na edição seguinte, com uma retificação, e em posteriores, com matérias que lhe enviei.

 

            Naquele dia, quando ia saindo da Casa do Fazendeiro, um pormenor me causava frustração: não ter conhecido o proprietário daquilo tudo. Um cara que, em ramo comercial tão especializado quanto o agropecuário, tinha o topete de se meter no empreendimento cultural daquele porte, dando oportunidade a todos os que se aventurassem pelo mundo das letras, só poderia ser um idealista.

 

            Balsas devia a ele o arrojo dessa aventura, desse altruísmo, eis que cultura geralmente não dá lucro para quem a exercita. Mas, como não vira ninguém naquele estabelecimento com jeito nem pose de dono, e com viagem marcada para o dia seguinte, só me restava conformar-me.

 

            Quando me retirava, sempre acompanhado pelo camarada que me recebera na chegada, peguei um cartão de visita, entreguei-o a ele, e falei, em tom de brincadeira, como é do meu feitio:

 

            – Olhe aqui, ô cabra, quando você estiver sem documento em algum lugar, puxe este cartão e diga: “Eu sou amigo do Raimundo Floriano, Mão de Onça, Pé de Pano!”. Mas, mudando de pau pra cacete, me diga, meu camarada, como é mesmo o seu nome?

 

            E ele respondeu:

 

            – José Eduardo!

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