TÁ FALTANDO UM
Raimundo Floriano
Ao luar do sertão: o terror da violência
No dia 12 de junho de 2004, ao meio-dia, eu me encontrava no Iraque, em plena guerra!
Espere aí, meu povo, a guerra à qual me refiro não é aquela do Oriente Médio, mas a batalha que eu e alguns amigos travávamos contra as garrafas cheias, à venda nos botequins do Iraque, assim conhecida a parte de baixo da Praça da Matriz de Santo Antônio de Balsas, durante o Festejo.
Os amigos se locupletando na cerveja, na pinguinha e noutras quentes, e eu, no refrigerante diet. Combate ameno, luta prazenteira.
Muito mais violenta do que a mencionada guerra bushiana é a que se trava diariamente no nosso Brasil, numa luta inglória e desigual: de um lado, bandidos fortemente armados, do outro, cidadãos pacatos e inermes, na brutalidade que se alastra por todo o país, chegando até ao pacífico sertão sul-maranhense, a exemplo da cruel execução a sangue-frio de que foi vítima, recentemente, o empresário José Eduardo, proprietário da Casa do Fazendeiro, no Alto Bonito, já quase chegando em casa, quando retornava de viagem a São Paulo.
Pois bem, ali no nosso pelejar iraquiano, na doce vida, chegou meu contraparente Jorginho Silva com uma novidade:
– Lá na Vaquejada, no Parque de Exposição, eu vi uma coisa por demais interessante. Todo mundo está com um jornal estampando a foto da Seleção Balsense de Futebol de 1956, que ganhou de Carolina no Festejo daquele ano!
– Jorginho, que jornal é esse? – indaguei.
– É O Fazendeiro, editado quinzenalmente pela Casa do Fazendeiro, daqui de Balsas mesmo.
– Rapaz, no meu livro Do Jumento ao Parlamento, lançado aqui no Festejo de 2003, há um episódio semelhante. Talvez tenham copiado o que publiquei.
– Não sei – disse o Jorginho –, mas o caso é que todo mundo está admirando o feito.
Ora, se fosse uma cópia do livro, não havia problema. Eu mesmo a autorizara, no Copyright, desde que citados o autor e a fonte. Precisava verificar isso. Como estávamos saindo em carreata, dirigindo-nos à residência do casal Antônio Augusto e Luíza Pires, onde se realizava uma feijoada comemorativa ao Dia dos Namorados, chamei meu amigo Luizão, acumulando os cargos de Segurança e Assessor para Assuntos Terranatalenses, e determinei que fosse em busca de um exemplar do pré-falado jornal. Ele, que não queria abandonar a boca-livre daquela comitiva, chiou:
– Marraimundo!
– Se vire, Luizão. Ande ligeiro, arrume o jornal e vá nos encontrar lá na casa da Luíza.
A feijoada estava superlotada de amigos, companheiros de velhos carnavais. Muita música e alegria, em ambiente descontraído e acolhedor. Mal chegáramos, e já me aparece o Luizão, todo esbaforido, com a missão cumprida.
De cara, gostei do que vi. Elaborada primeira página, manchetes bem destacadas, seções diversificadas em mais 11 páginas, fotografias em profusão. Porém não deu outra: era cópia sem menção do meu livro.
No dia 14, rumei para a Redação do quinzenal, no intuito de pedir uma explicação. A Casa do Fazendeiro fervilhava de clientes. Quando lá entrei, sem conhecer pessoa alguma, fui direto a um dos caixas e perguntei a um camarada que se encontrava ali por perto:
– Você trabalha aqui?
– Sim! O que o senhor deseja?
Expliquei-lhe o motivo de minha presença ali, ele me pediu que eu esperasse e entrou por uma porta à direita. Não demorou, e o camarada estava de volta em companhia de outro funcionário da empresa:
– Este aqui é o jornalista Carlos Airton Rocha, Chefe da Redação.
O Carlos Airton foi extremamente receptivo às minhas ponderações colocando-se à disposição para os necessários esclarecimentos, franqueando-me suas páginas para os meus escritos, o que aconteceu logo na edição seguinte, com uma retificação, e em posteriores, com matérias que lhe enviei.
Naquele dia, quando ia saindo da Casa do Fazendeiro, um pormenor me causava frustração: não ter conhecido o proprietário daquilo tudo. Um cara que, em ramo comercial tão especializado quanto o agropecuário, tinha o topete de se meter no empreendimento cultural daquele porte, dando oportunidade a todos os que se aventurassem pelo mundo das letras, só poderia ser um idealista.
Balsas devia a ele o arrojo dessa aventura, desse altruísmo, eis que cultura geralmente não dá lucro para quem a exercita. Mas, como não vira ninguém naquele estabelecimento com jeito nem pose de dono, e com viagem marcada para o dia seguinte, só me restava conformar-me.
Quando me retirava, sempre acompanhado pelo camarada que me recebera na chegada, peguei um cartão de visita, entreguei-o a ele, e falei, em tom de brincadeira, como é do meu feitio:
– Olhe aqui, ô cabra, quando você estiver sem documento em algum lugar, puxe este cartão e diga: “Eu sou amigo do Raimundo Floriano, Mão de Onça, Pé de Pano!”. Mas, mudando de pau pra cacete, me diga, meu camarada, como é mesmo o seu nome?
E ele respondeu:
– José Eduardo!
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