Feira de Caruaru – Foto Amaraji Notícias
Costumo matutar sobre a inteligência e o raciocínio rápido das crianças e sendo bisavô de onze dessas criaturinhas, falo de cátedra. Somente com a “Prata da Casa” tenho material suficiente para comentar coisas tão interessantes durante agradáveis crônicas.
Devo o hábito de colecionar frases dos pequeninos ao Dr. Pedro Bloch, brasileiro naturalizado, nascido na Ucrânia, que anotava num caderno do consultório tudo quanto presenciava sobre crianças e isto deu motivo aos seus notáveis livros.
Pedro Bloch
Médico foniatra, e nas horas vagas: jornalista, compositor, poeta e dramaturgo. Publicou mais de 100 livros infanto-juvenis. Dentre as dramaturgias famosas, “As mãos de Eurídice” foi a mais encenada nos anos 50.
Livros de Pedro Bloch
Os pequeninos voltam ao palco de minhas crônicas.
Minha primeira neta, a Patrícia, hoje residente na América, quando tinha três anos, acocorou-se para apanhar um lápis e soltou um sonante “pum”. Ao ser indagada sobre o porquê, saiu-se com esta:
– É couro curto, vovô!
Certa vez, entrevistando Dumuriê, na residência dele, a netinha nos chegou meio chorosa reclamando:
– Vovô estou com muita dor de cabeça!
E Dumuriê, como bom avô:
– Venha cá, minha filha, deixe-me “ver” essa dor de cabeça.
– Pode não vovô, é dentro da cabeça.
De outra feita fui mostrar o mar ao meu sobrinho André Luiz, de cinco anos. Ao chegar à praia de Boa Viagem, ele já sem os sapatos, correu para a água molhou a mão e levando-a à boca, disse:
– Tio, quem salgou essa água toda?
O filho mais novo, aos três anos, vinha conosco no carro e estando no banco de trás, em certo momento, espichou-se até a janela do carona e vendo parado ao nosso lado um carro de funerária levando um caixão, saiu-se com esta, dando um grito inesperado:
– Motorista! Esse defunto aí atrás deve estar fedendo muito, não é?
Lulu, de três anos, presa em casa pela pandemia, sem direito a passar a manhã na Escolinha, revira todo o apartamento com o mano Pedrinho, de cinco. Nas peripécias da “dupla-dinâmica” ocorreu uma manobra mal calculada por ela e sua cabecinha foi maltratada, causando o maior berreiro.
O papai Felippe intercedeu para abrandar o drama:
– Venha cá, Lulu, deixe eu fazer uma massagem nessa cabecinha.
– Passa não papai! Só passa se você me der um “Danoninho” e me levar pra casa de vovó Juju!
Na década de 40 eu era rei, convivendo numa casa onde havia seis adultos e só uma criança. Numa jogada mal calculada, quando treinava na oficina de meu tio Tantão, dei uma martelada no dedo e tal foi a dor que corri para a cozinha à procura de apoio com a tia.
– Teteza, eu já posso chamar “Pinóia”?
– Pode meu filho. “Pinóia” o padre deixa, viu?!…
E soltei ressonante “Ora Pinóia!”, como se isso fosse um desabafo, por ser, no meu entendimento, um palavrão vingativo.
Fico agora entristecido, nestes anos do Século XXI, ao observar que os palavrões correm soltos em todas as idades e locais, não mais se respeitando nem os pais.
Outro dia, Biuzinho, filho de uma comerciante da Feira de Caruaru, ao pedir dinheiro à mãe e lhe ser negado, soltou um estridente conjunto de palavrões, sem cerimônia, o que me assombrou. Mas, era um fato recorrente bem aos modos destes infelizes “tempos modernos”:
– Puta que pariu, mãe! Pois soque seu dinheiro no rabo!…