No festim, a sopa de pedras, sem sal. E todos se achegaram: os sem-sorriso e os sem-medo. Depois, até uns sem-fome também vieram pois mais valia a festa que a vontade de comer. Na sopa de pedras puseram sal e o caldeirão fervia … foi quando chegou o povo dos versos abraçando os poetas e fazendo quadras e sextilhas; os sem-ouvidos aplaudiam o pianista e dançavam um blues. Do circo próximo chegaram os malabaristas, o homem do trapézio e o palhaço, que não podia faltar. O domador de leão veio só. A equilibrista, bêbada, não pode vir. Os sem-alegria riam e brincavam e os sem-ninguém encontraram seus pares. E sobrava sopa. Ninguém queria dela saber, muito menos das pedras, que, ao final, apenas serviram para erguer um altar e comemorar a vida, à moda de cada um. De braços dados e saciados de tanto amor escancararam sorrisos e beberam goles de alegria e esperança até o dia clarear. A noite foi breve e as flores se abriram mais bonitas naquela manhã de sol. Do outro lado da rua, o dia permanecia escuro. Todos, com a consciência pesada pois não conheciam a leveza de consciência, comiam as melhores carnes e bebiam os vinhos das safras mais antigas. Eram tristes, não sabiam sorrir nem cantar. Como os ratos que rondavam os felpudos tapetes azuis e vermelhos do salão. Também tristes.
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