SONETO DO RETRATO MAL FALADO
Bocage
Esqueleto animal, cara de fome,
De Timão, e chapéu à holandesa,
Olhos espantadiços, boca acesa,
D'onde o fumo, que sai, a todos some:
Milagre do Parnaso em fama e nome,
Em corpo galicado alma francesa,
Com voz medonha, língua portuguesa,
Que aos bocados a honra e brio come:
Toda a moça, que dele se confia,
É virgem no serralho do seu peito;
Janela, que se fecha, putaria!
Neste esboço o retrato tenho feito;
Eis o grande e fatal Manoel Maria,
Que até pintado perde o bom conceito.