SONETO DA ESMOLA DESVIRTUADA
Bocage
Padre Frei Cosme, vossa reverencia
Se enganna, ou engannar-nos talvez tenta:
Quem as riquezas dá, quem nos sustenta,
Não é de Deus a summa providencia?
Pois logo com que cara ou consciencia
Esmola pede, e arrepanhar intenta
Para o Senhor da Paz, ou da Tormenta?
Tem Deus do homem acaso dependencia?
Tire a mascara pois, largue a saccola,
E deixe o povo, a quem impunemente
Em nome do Senhor escorcha, e exfolla:
À viuva deixe a esmola, e ao indigente;
E não queira, hypocrita farsola
Foder à custa da devota gente.